domingo, 17 de junho de 2012

The sound of silence.

Lembro que tinha uns poucos onze anos quando vi minha primeira partitura; na verdade partituras não me eram desconhecidas, mas naquele dia eu iria aprender a ler aquelas formas estranhas, e de alguma forma que eu ainda não sabia como, transformar aquilo em música!
A empolgação era das maiores, não conseguia afastar meus dedinhos das teclas, tão brancas...arrumei tudo milimetricamente, numa organização desconhecida por mim. Me sentei com toda a postura que achara certa para a ocasião. Era tudo muito silencioso...aqueles rostos desconhecidos se olhavam com estranheza, e eu como a menor dentre todos, quase passo despercebida não fossem pelos meus olhos de jabuticaba petrificados nas teclas, e na partitura.
Tudo tão difícil...e tão amável...a única coisa que me causava revolta eram as pausas, não queria ler o silêncio nas partituras, o som deveria ser inacabável! A página não podia virar nunca, as teclas não podiam sentir a ausência dos dedos. E naquela sala branca repleta daqueles rostos velhos, minhas pequenas mãos tiveram que aprender a respeitar certas pausas...não aguentei e fui embora!
Desde então convivi sem pausas, sem silêncios, sem calmaria...mas aqueles olhos de onze anos foram mudando, fui obrigada a visitar mais salas brancas, mais rostos velhos, mais leituras difíceis...e chega uma hora em que se aprende.
Aqueles olhos de jabuticaba hoje são mais atentos a outras coisas além de teclas brancas, mas os dedos se acalmaram, e hoje sei respeitar certos silêncios, aproveitar de olhos fechados escutando o vento...ou com um sorriso de compreensão quando rola uma daquelas conversas silenciosas que só os melhores amigos sabem ter.
"Mas você anda mais calada...o que aconteceu?"
"Nada"
Você que se engana...ando mais tagarela do que nunca...mas aprendi que antes de falar pra fora, eu preciso falar pra dentro.

kamilatavares.

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