quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Café com pão de queijo.

Eu conheci o Luiz em uma festa aleatória que eu nem queria ter ido pra começo de conversa. Era um Sábado preguiçoso e eu fui beber o luto pela morte de um familiar; não era um dia que eu pudesse chamar de bom ou produtivo. Tentei ir ao banheiro e fui barrada na fila por um cara alto vestindo uma camisa do Motorhead que me disse que o bar estava muito cheio e a fila muito grande; teimei com ele e resolvi esperar assim mesmo, quando saí ele estava me esperando pra dizer que eu não pensasse mal dele, me garantindo que não era um cara chato e me dizendo que ele era novo na cidade e não conhecia quase ninguém.
Pelo sotaque eu soube na hora que ele era mineiro, torcedor do galo e apreciador de cerveja, rock n' roll e pão de queijo com café - estava certa. E ali mesmo começamos a conversar sobre as mais variadas coisas...coisas que nem me interessavam numa conversa de bar, mas conversei do mesmo jeito só pra ouvir a voz dele, só por gostar de sotaque mineiro, só por não querer sentar na calçada e beber sozinha. E ali mesmo ele pediu o meu telefone e falou da cadelinha que ele adotou pra não se sentir tão só, e depois de duas horas de conversas aleatórias, ali mesmo ele me beijou e depois foi embora.
Sabe aqueles filmes americanos que a gente assiste na Sessão da Tarde só pra se iludir que existe romantismo no mundo? Eu achava que não existia essa coisa de ser convidada para um encontro, até o dia seguinte quando o meu telefone tocou e o Luiz estava do outro lado da linha me chamando para ir ao cinema com ele. Veio me buscar em casa, vimos o filme, tomamos chopp e fomos comer sushi; e nesse dia eu descobri que dividimos o mesmo restaurante preferido, o mesmo vício por cinema e que ele também sabe todas as falas de Closer decoradas (nessa hora eu confesso que quis me casar com ele ali mesmo). De alguma forma que eu não sei explicar eu me senti em casa perto dele, como se eu morasse dentro de um filme guardado na minha prateleira de DVD's e que a qualquer momento eu podia voltar ali e reviver tudo.
O Luiz foi embora depois disso, foi embora pra sempre e nunca mais falou comigo - os créditos subiram, a trilha sonora tocou e eu não consegui rebobinar a fita de jeito nenhum, mas, de vez em quando, assim quando eu me deito antes de dormir e penso em como eu tenho vivido feito um robô sem sentimentos, eu fecho os olhos e lembro do Luiz e seu sotaque bonito reproduzindo as falas de closer entre um gole e outro, e me lembro em como é bom ter uma saudade guardada pra sentir de vez em quando, e como é bom pensar que um dia você pode encontrar alguém assim na vida, mas alguém que fique, filme a sequência, lance a trilogia, a versão estendida, os extras e o making of.
Depois disso eu voltei a ser só, mas não me lamento não sabe?! Escuto uma música lenta enquanto sinto o frio entrando pela janela do meu quarto ou quando saio por aí pra esperar que algo de bom me aconteça...e eu sei que vai.


Kamilatavares.

domingo, 18 de maio de 2014

Stop being such a Pussy!

Faz um tempo que eu não escrevo diretamente aqui como eu costumava fazer, faz um tempo que eu não falo sério sobre o que penso ou sinto em lugar nenhum, com ninguém...nem comigo mesma, e faz uma vida que eu não escrevo diretamente no melhor estilo "querido diário"...porque por mais que o escritor sempre adicione um pouco do que sente em sua obra (lembrando que nem eu sou escritora, muito menos tenho uma "obra" pra ser citada), sempre se usa a linguagem figurativa - e eu abuso dela de vez em quando...mas não hoje, não agora!
Vim aqui pra dizer que me tornei covarde. O tempo me fez ter medo de me expor, me fez ter medo de chorar em público, medo de dizer as coisas que eu sentia, medo de não me importar com os outros, medo de ser abandonada, medo de perder meus amigos...e esse medo me trancou num quarto cheio de comida e filmes do James Franco - e num piscar de olhos eu me tornei extremamente sozinha e paranoica, e traduzi meus sentimentos pra uma língua que só os desconhecidos conseguiam entender...e os desconhecidos não te julgam. Quanto aos que eu conheço - preferia ser julgada por ter me tornado uma fã paranoica que agora só sabe comer e dormir do que ter que explicar o que estava acontecendo, ou seja: NADA.
Chame do que quiser, mas eu me anestesiei de um jeito que não consigo nem explicar, mas sim...sou fraca e não aguentei ver que ele superou tudo, sumiu de vez e tocou a vida dele pra frente então resolvi cometer um suicídio emocional que foi tão grande que até o que tinha de bom foi embora, e não importa o que aconteça, eu não sinto nada.
Se meus pais brigam comigo ou me enchem de carinho, se eu não tenho um emprego ou um namorado, se minha banda só ensaia e não faz nenhum show, se os meus melhores amigos não são mais tão melhores amigos assim, se aquele cara super bonito me olha no meio da festa, se alguém me rouba um beijo ou diz estar apaixonado por mim, se o meu sobrinho escreveu uma carta pra mim ou eu me dou conta de que estou infinitos quilos mais gorda e trancada no quarto há três dias com pilhas de episódios de seriados, comédias românticas e sacolas da padaria da esquina espalhadas pelo quarto inteiro...se o mundo acabasse agora...ainda assim eu não sentiria nada. Talvez alívio...talvez.
Sei que parece drama adolescente, e talvez seja - já que a minha adolescência não teve grandes dramas - mas é assim que as coisas estão...e eu não vejo uma mudança chegando. Talvez ela chegue naquele dia em que você acorda disposta a mudar sua vida completamente e ser uma pessoa melhor, mas levando-se em consideração que eu estou indo dormir todos os dias umas 7h da manhã, é mais provável que eu acorde no meio da tarde com a minha mãe dizendo que eu perdi o almoço e preciso dar um jeito na minha vida...vida essa que eu já pensei seriamente em dar o reset e deixar pra lá.
Não que eu tenha me tornado uma psicopata depressiva. Eu de fato exponho o meu bom humor fake todos os dias sem grandes problemas, porque já que eu ando sem sentir nada mesmo...fingir que está triste ou feliz acaba se tornando a mesma coisa. Mas quando eu estou aqui, sozinha, lidando com o meu vazio interior, acredite: Se alguém me pedisse em casamento ou se um filhote de gato morresse eletrocutado na minha frente eu sentiria exatamente a mesma coisa: Nada.
Mas acredite, encontrei algumas alternativas para me motivar - minha monografia é um bom exemplo! Pelo menos estudar lhe distrai de certas coisas, e eu estou segura com o tema, tenho um bom orientador e acredito que vou conseguir terminar o curso de forma satisfatória - pelo menos isso. E como a gente tem que ter um sonho impossível - eu ainda acredito que vou pra New York tropeçar com o James Franco dando bobeira pela Broadway...pelo menos eu sei que ele não faz a mínima ideia de quem eu sou (ou seja, não pode piorar), e pelo menos ele me ajuda com a minha monografia (já que estou usando um dos filmes dele) e me inspira...e é bom ter um ídolo - o que significa que eu posso ser louca, mas sou uma louca com um objetivo.
Quanto à ele...não faço a mínima ideia do que tem feito nos últimos meses, ou se um dia vou ter coragem de olhar na cara dele outra vez sem me destruir completamente por dentro. Mas ainda dedico certas horas do meu dia ao exercício de meditar pela felicidade, saúde e paz na vida dele (embora eu não faça isso nem por mim), e esperar as cartas vindas do além.
Eu sempre achei que me faltou coragem de fazer as coisas, porque sempre fui chamada de preguiçosa. Mas quando tive coragem acabei apostando na mesa errada - o que me fez pensar que o que me faltava era direção, mira...mas na verdade me falta tudo, e de tanto errar em tudo eu acabei parando...e por sentir tudo de forma tão exagerada acabei não sentindo mais nada - nem mesmo vontade de escrever...mas vamos dando um passo de cada vez - considere este o primeiro.


Kamilatavares.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Breakfest

I saw the Beat generation coming back trough the new hipster's minds
the misfits, the underage drunk kids, the young rebels in the alley
they don't even know about Ginsberg, Kerouac and Lucien Carr
they don't even know about Cassady, the Naked lunch and the junkies
but they're living the dead revolution
They're angels in the sky with diamonds
holy ignorance
holy youth crazyness
Imagine how the world would be with a little more benzedrine.

Your crazy uncle locked up at that mental hospital...you should learn with him
he's the wise one
we are the real crazy people trying so hard to be normal
Hiding our feelings, becoming robots of ourselves
telling our children that they can't be artists, they'll never make it
imagine how crazy would be if you start living your dreams

The boy next door became an astronaut, you see?
and I'm on the edge...on the top of this building
I was about to kill myself on that story, but I know how it ends, so now I'm just waiting

Waiting for the dead revolution of the people that hate everything
specially themselves.



Kamilatavares.

domingo, 23 de março de 2014

Um poema de amor bem amado para Guilherme.

Tu me fazes - oh meu bem - 
bem muita raiva
tipo bem muitona
e me abandona e me deixa
e eu devia ter ódio de tu e te dar umas tapas e te abandonar

mas eu não te abandono
porque eu sou besta
e tu disse uma vez que eu era compreensiva
e porque eu te amo
e porque tu tens um bacon gordinho
que eu gosto de apertar
e te apertar é bão
mais bão que pãodjiqueiju com café de mamãe
e eu gosto pronto

e foda-se a rima
me ligue-me
que eu te ligo-te
e nós nos ligamo-nos
e fim.



Kamilatavares.


segunda-feira, 17 de março de 2014

60 minutos.

Eu acho que antes a minha fome por respostas me embaçou mais ainda a visão e me impediu de prestar atenção em outras coisas que fossem também importantes...ou distorceu muita coisa que eu deveria ter visto de outra forma, e eu passei os últimos meses revisando todos os capítulos, mas sempre e busca de algo que eliminasse os meus porquês, os meus questionamentos, as minhas interrogações...

Eu confesso a minha raiva, o meu grito de desespero, o meu choro e o tremer das minhas mãos...eu confesso o olhar desolado através da janela e o soco abafado no travesseiro...eu confesso o nó na garganta e o meu desequilíbrio...eu confesso os meus surtos e mudanças bruscas de humor...eu confesso, fiz cena.

Acho que os dias enclausurada me trouxeram não só momentos profundamente depressivos como também algumas horas de boa reflexão, e por fim a gente acaba se acalmando e o conformismo com seja lá o que for se torna inevitável...começamos puramente raiva e terminamos entregues ao "que seja...agora tanto faz". Mas eu não acredito no tanto faz.

Me limitei a não esperar respostas, elas de nada me servem a não ser para me tirarem os nervos e acabarem com o meu frágil equilíbrio, e me conformei em não mais perguntar, não mais pedir, não mais procurar...mas dedico pequenas parcelas do meu dia para os pensamentos que dizem ao seu respeito, limitando-os apenas aos pensamentos positivos e recordações reconfortantes. Escrevo várias cartas, monto repertórios de músicas e serenatas, planejo supresas que eu sei que você vai gostar e faço listas de presentes.

Todo dia eu lhe dedico uma hora...ou mais, ou menos.

A sua hora é com certeza a mais bonita do dia, é como se eu me enchesse de olhares poétios pra poder te enviar energias boas...tudo fica mais bonito, até os ruídos dos carros somem. Sua hora não é regular, e pode ser dividida em pequenas parcelas de cinco ou dez minutos...

Quando eu vejo o Sol nascer e lhe digo bom dia bem na hora em que você acorda preguiçoso pra ir trabalhar - esperando que você coma bem no café da manhã e preste atenção no trânsito.

Quando eu faço pequenas caminhadas e vejo alguma árvore bonita.

Quando eu pego o violão e toco uma música que você gosta.

Quando eu escrevo.

Quando eu assisto um filme bom e quero que você também assista.

Quando eu escolho a música do dia.

Quando eu leio algum trecho sensacional de um livro qualquer.

Quando o tempo esfria...quando chove.

Quando eu canto ou aprendo a tocar algum instrumento novo.

Quando eu escolho alguma nova coisa preferida.

Quando eu choro...e quando eu sorrio.

Assim a sua hora passa todo dia, e no dia seguinte outra hora começa...e foi assim que eu encontrei a minha versão do que seria meditar - pensar apenas em coisas belas, enviar boas energias, me sentir parte do mundo...da natureza...me sentir um Ipê amarelo jogando flores douradas na calçada. A natureza não precisa de respostas...ela somente é! Você não está sempre lá pelas árvores...mas elas estão sempre lá pra você!

Outro dia eu sonhei que você criava coragem e fugia de casa num Fusca...e vinha me buscar! Foi legal.


Kamilatavares.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Antônio e o ralador de cenouras.


Eu gosto de cenouras raladas, mas sou desastrada e sempre rasgava os dedos quando tentava ralar o finalzinho da cenoura, mas achava um desperdício jogar o resto da cenoura no lixo. Pensei em comprar um coelho pra me fazer companhia e comer os pedacinhos da minha cenoura - assim eu não me cortaria no ralador e não jogaria mais cenouras no lixo - Ou quem sabe desistir das cenouras e colocar outras coisas na minha salada, que já tinha alface, tomates e outras coisas que eu encontrava pela geladeira...quem sabe mais ervilhas?! Talvez...
Antônio chegou em casa e percebeu que eu andava meio triste...quando me perguntou eu contei pra ele o dilema da cenoura, mas acontece que se ele não podia ter um gato (porque eu não gosto de gatos), eu não poderia ter um coelho - era uma simples decisão democrática...pensou em comprar um cachorro (nós dois gostamos de cachorros), mas o cachorro não comeria as cenouras...e agora?
Olhei as minhas mãos alaranjadas e pensei: "Que tal um ralador elétrico?" uma geringonça elétrica dessas que vendem hoje em dia que rala cenouras, corta cebolas e tomates e tudo que você imaginar.

- Antônio, eu quero um ralador elétrico!
- Mas e o cachorro? 
- Também quero o cachorro, mas primeiro o ralador elétrico! Só assim eu não corto os meus dedos, não jogo nenhum pedaço da cenoura fora e também não precisarei mais cortar cebolas! Está decidido o meu presente de aniversário! Um ralador elétrico!
- Não vou lhe dar um ralador elétrico de presente de aniversário! Seria ofensivo!
- Mas porque ofensivo, Antônio? Se eu quero o maldito ralador...ofensivo seria se eu não o ganhasse!
- O ralador é um presente para a casa, não para você! Lhe darei outra coisa, e depois do seu aniversário eu lhe compro o ralador.

Antônio tinha pensamentos diferentes, entende? A mãe dele odiava os aventais que o seu pai lhe dava todo aniversário...os panos de prato, as panelas novas...de forma que cresceu com tais pensamentos, sua mãe sempre lhe repetia que tais presentes eram ofensivos - mas eu só queria o meu maldito ralador! Não seria uma ofensa para mim - afinal de contas eu precisava mais do ralador do que de um par de sapatos novos.

- Você gosta de cenouras raladas, Antônio?
- Detesto! Você sabe disso!
- Então só quem come cenouras raladas em casa sou eu...logo o ralador de cenouras será meu! Quando eu precisar de sapatos novos lhe pedirei sapatos novos...quando eu precisar de um vestido,lhe pedirei um vestido...mas hoje eu preciso de um ralador elétrico!
- Tu sempre me derruba no argumento, hein mulher?! 
- Faremos o seguinte...me dê o ralador que eu lhe dou uma chaleira!
- Hã?
- Eu por acaso bebo chá? - Disse com certo tom de arrogância...ora, eu precisava provocar o Antônio de alguma forma.
- Não!
- Quem faz chá nessa casa toda noite?
- Eu!
- Então lhe comprarei uma chaleira nova...temos um acordo?
- Ok, temos um acordo!
- ok então!

Dei um beijo nele, peguei o meu carro e fui procurar sua chaleira, ele por sua vez foi comprar o meu ralador elétrico...veja só que coisa boba, não é mesmo?! Quando eu conheci o Antônio o drama dele se espantou com a minha praticidade e o seu metodismo tratou de cuidar do meu desleixo...ele assiste novela escondido, sabia?! Acho uma graça...

Quando ele voltou pra casa, trouxe o meu ralador e um livro novo pra não lhe pesar a consciência...eu estava inaugurando a chaleira preparando um chá de qualquer coisa pra ele...nunca soube fazer chá - mas diz ele que ficou bom! No dia seguinte o nosso cachorro chegou, e eu comi a melhor salada do mundo na hora do almoço, que foi melhor que as outras pelo simples fato de eu não ter que me preocupar de achar nenhum pedaço do meu dedo dentro do prato. 
"Uma maravilha essa geringonça eletrônica, não é mesmo Antônio?"
E as minhas mãos nunca mais foram cheias de cortes e cor de laranja.

Histórias aleatórias que se contam aos domingos.

Kamilatavares. Do livro que eu nunca publiquei, porque não existe nenhum livro...nem cachorro, nem coelho, nem Antônio, nem cenouras. 2014.

Mas eu gosto de cenouras...

quarta-feira, 5 de março de 2014

Nós três, nós quarto, nós cinco, nós seis!



A gente tocava cover pra se distrair e o bar tinha cheiro de cigarro e mofo
A gente bebia pra se divertir e não se importar com a caixa estourada e o choque no microfone
A gente saía pra não voltar, voltava pra não sair, dormia pra não sonhar e sonhava sem dormir
A gente não fazia a mínima ideia, mas era feliz...era sim!

Depois tudo é composição, produção, gravação, enrolação
Depois tudo é briga e papo sério
Depois tudo é ressaca, tudo é trabalho
Depois chega a responsa, a dor nas costas e a idade
Depois tudo é saudade.

Que nem passar o ano preso na Quarta-feira de cinzas
Dá uma sede, né?!
Sede de água, sede de ontem, sede de carnaval

Que nem encontrar o primeiro namoradinho na fila do supermercado
com um filho no braço.
Estranho, né?!
Que nem um nó na garganta, que nem se engasgar com o suco de cajá quando não tem ninguém em casa
A gente tenta tossir o que incomoda pra sobreviver...mas não tem quem lhe dê um tapa nas costas.

Pois é tipo isso entendes?

Kamilatavares.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Letters for him.

No dia que a gente conversou sobre o Tarantino eu sabia que ia acabar me apaixonando por você...bateu a intuição, sabe?! Foi uma das primeiras conversas mas eu sentia um entusiasmo que me fez querer conversar sobre tudo que eu gostava e te contar sobre o meu dia e as coisas que eu pensava sobre o mundo...e me perguntei porque você trocou a diversão dos bares, cinemas e teatros por meia hora de papo furado comigo; foi aí que eu percebi que você se sentia tão só quanto eu, embora fosse feliz com isso de certa forma...

Eu costumava adorar aglomerações de pessoas...não multidões de estranhos - essas me assustam - mas aglomerações em festas pequenas e médias, encontros de amigos, shows em bares com aquelas bandas que tocam tudo que a gente gosta, sabe?! Costumava andar e encontrar quinhentas pessoas conhecidas, conversar com elas, me divertir, fazer algo fora do planejado. Ontem eu tentei, mas tentei me isolar das pessoas não sei porque...conversei com todas elas mas não tive vontade de ficar perto de nenhuma...e me vi andando sozinha com minha cerveja na mão sem pressa de chegar em casa porque ninguém ia querer saber das coisas engraçadas que eu vi, ou das músicas que tocaram ou daquela velha amiga que eu não via há tempos e que foi tão legal matar as saudades dela...eu consegui com maestria me sentir só na multidão...e a dor vai passando - a gente sabe - os dias vão passando batidos, as taquicardias se tornando triviais e o choro no meio da noite vai dando lugar ao sono, mas isso não quer dizer que eu não sinta sua falta todos os dias...que eu não sofra por ter perdido o meu melhor amigo...porque apesar de tudo o que aconteceu era isso que você representava...o resto todo era incerteza, e eu morria de ciúmes de tudo, e queria amarrar você na grade da janela e não te deixar sair do quarto nunca...porque você era o meu amor e o meu melhor amigo...e isso era uma maravilha que nem eu poderia acreditar.

Não vou tentar ficar bem, nem vou me abraçar com o sofrimento...vou deixar que os dias passem e as cartas diminuam, e que a vontade de te contar quantos sinais verdes eu peguei no caminho pra faculdade passem, e que eu volte a compor canções e não queira te ligar no meio da noite...eu costumava falar sozinha imaginando você sentado na cadeira ao lado...agora eu faço orações pra não perder o equilíbrio depois de tantas crises nervosas...e espero um dia confiar em alguém que possa ouvir o que eu tenho a dizer e que me conte algum segredo importante que eu não possa contar pra mais ninguém...enquanto isso eu espero o dia em que eu vou parar de esperar.

Acho que eu perdi a minha habilidade de fazer boas analogias, acredita? Mas consegui completar o meu top3 de melhores series de drama, concluí que o Ipê amarelo é de fato a minha árvore preferida e descobri que as melhores pessoas são aquelas que não ficam constrangidas em momentos de silêncio com outras pessoas...tente passar cinco minutos em silêncio com alguém...se ela não se incomodar e nem tentar puxar assunto desesperadamente, bem...tenha certeza de que essa pessoa tem opiniões muito boas sobre as coisas e uma visão bacana sobre o mundo!

Sinta saudade de mim quando alguém lhe apresentar uma música nova ou falar de um jeito quase que esquizofrênico sobre alguma coisa que gosta muito...ou quando precisar de um cafuné antes de dormir. Eu vou ficar bem daqui.

O carnaval começou e eu já tirei o meu bloco da rua.



Kamilatavares.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ambiguidade.

Sonhei com você outra vez...mas que merda...que maravilha! É isso mesmo! Me amaldiçoo e me bendigo por cada pensamento que lhe direciono durante o dia ou até mesmo em sonho, e me sinto partida ao meio quando te quero por perto e ao mesmo tempo bem longe de mim, quando concluo que você é a pessoa que mais me fez mal e mais me fez bem, que eu mais amei e amo, que eu mais odiei e odeio...que eu confio cegamente sem acreditar em uma palavra do que você diz!

E me dividindo vou procurando me completar...em silêncio vou gritando.

Tipo aqueles pacientes que não sabem o que fazer quando encontram a cura e não precisam mais voltar ao hospital...tipo aqueles vilões que conseguem matar o herói e depois ficam sem ter o que fazer...tipo quem guardou dinheiro a vida toda pra viajar e uma semana antes de ir acabou infartando de tão feliz e morreu...tipo estudante que ralou a vida inteira pra tirar notas boas e depois que acaba a faculdade ficou sem emprego...tipo nadar e morrer na praia.

Um

Vazio

Sem

Fim.

E que de tão grande me preencheu.





Kamilatavares.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Dear...


Para Ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=da-ELYFRFpc


Hoje quando me deitei aconteceu algo mágico, como se duas dimensões se misturassem em uma só criando um espaço paralelo entre dois lugares que só é possível existir quando duas pessoas pensam uma na outra ao mesmo tempo, no mesmo milésimo de segundo. Eu vi o teto se dissolver e ondas azuis e amarelas flutuarem pelo ar, como se eu estivesse presa em uma fotografia antiga, em um filme queimado que dançava no ar...e o piano me acalmava.

Olhei pro lado vazio da cama e você entrou cansado...me fez cócegas e me abraçou antes de se deitar e arrumou o travesseiro pra descansar olhando pra mim...passou a ponta dos dedos no meu rosto e depois de um longo suspiro me contou sobre o seu dia.

Sabe, eu gosto de ver o mundo através dos seus olhos...essa bola gigante de poluição e trânsito ao som do Radiohead e cheio de fumaça de cigarro e coisas suas jogadas por todos os cantos me faz entender porque você gosta de ver o meu mundo de filmes e tardes na praia tocando violão, rede e café quente...então você se lembra do frio e da cachoeira, do vinho e das paredes azuis e se acalma...e para pra ver o céu e sentir o vento no seu rosto...e foge de madrugada pra escutar o barulho das ondas, e se desliga do mundo como eu costumo fazer. Sabe, eu gosto de ver o que você aprendeu com os dias e escutar sua voz enquanto lê...e aprecio os seus silêncios.

Então você dormiu, e de tão leve se dissipou na minha frente...e aquela poeira amarela me emocionou de forma que eu chorei e sorri ao mesmo tempo. Desde então eu lhe conto tudo em silêncio enquanto ando pelas ruas...e tiro fotografias mentais pra te mandar, canto baixinho aquela música enquanto espero o ônibus e sorrio pra criança na rua que eu sei que você acharia bonita...desde então eu te levo para todos os lugares comigo nesse samba da solidão acompanhada - e não me importo com olhares porque tudo é nostalgia, tudo de belo vive nessa dimensão paralela, nesse espectro de vida que se criou ao meu redor, e o que o mundo vê são versões menores do que sinto, porque a plenitude é difícil de se entender.

E então eu durmo...

Kamilatavares.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

House of cards.


Ele pôs a mão na minha coxa. Não apertou, não moveu os dedos...só pousou a mão na minha coxa enquanto a outra segurava o volante e seus olhos atentos apontavam em todas as direções da avenida movimentada...só pousou a mão na minha coxa esquerda dizendo em silêncio que estava ali...e eu senti.

Não entendo nada de partículas, moléculas, átomos e essas coisas todas, mas senti a minha pele formigar sob a sua mão que - ali mesmo, imóvel - dividia faíscas e uma energia que eu nunca senti na vida, mas era algo magnético porque me fez querer ficar sentada naquele carro pra sempre.

Enquanto isso o meu rosto sem expressão olhava pela janela...fechei os olhos e senti o vento entrar em todos os meus poros...poluindo minhas bochechas rosadas do sol com a fumaça dos caminhões e confundindo meus ouvidos que não distinguiam mais o som do vento, do rádio ou do motor do carro...e minha mão voava feito uma pipa na janela...dançava como uma de suas bailarinas, leve...leve...leve... E naquele momento eu senti cada célula do meu corpo se agitar e palpitar por um minuto a mais das mãos dele em mim quando ele precisou trocar a marcha pra parar no posto de gasolina e pedir uma informação; então meu corpo momentaneamente se desligou daquele coma agradável e eu voltei pra realidade.

- Vá até o fim da avenida e faça o retorno, tem um posto bem na esquina, pergunte lá e eles vão saber lhe informar.
- Muito obrigada!
- Nada, senhor! - Disse o frentista.

A voz dele mudava de acordo com a situação...pelo menos era isso que ele achava, mas eu sempre escutava uma nota infantil em suas palavras...não aquela infantilidade imatura, irresponsável - mas uma infantilidade leve, divertida, descontraída...sem querer eu sorria sempre que ele falava com os outros com um ar de adulto que não me convencia...ele alisou meu joelho, as faíscas voltaram a iluminar tudo em mim e eu beijei seu ombro direito e dei uma mordidinha antes de voltar a contemplar o dia indo embora pela janela. Meu celular tocou, não atendi.

- O que foi, bebê? - Perguntou.
- Nada
- Tem certeza? - Insistiu.
- Tenho sim...o dia foi cansativo, só isso! Preciso de um banho.
- É verdade! Agora você sabe o que eu enfrento todo dia...desculpa ter que te levar pra trabalhar comigo, eu de fato não podia faltar...queria levar você pra passear mas foi meio que de última hora.
- Não tem problema - disse com honestidade - eu adorei os seus amigos, foi muito divertido! Só não estou acostumada ao clima.
- Tamo já chegando em casa, cê toma um banho gostoso e eu cuido de você, tá bom? Faço cafuné, dou beijo, abraço...cê vai se sentir melhor...
- Claro - disse sorrindo - é exatamente o que eu preciso!
- Entãããão tá bom! Agora escuta essa música!

Escutei a música e escutei ele cantando junto, feliz, satisfeito enquanto brincava com o meu joelhos e as pontas dos meus dedos...e eu olhava satisfeita as expressões que ele fazia enquanto dirigia...gosto de olhar ele dirigindo, no controle da situação...e a voz dele que acabara de perguntar se eu estava bem ainda ecoava...ele tem outra voz pra me perguntar as coisas, mais doce...quase cantada, quase derretendo pra fora dele...e eu gosto de ouvir. Ele também tem a voz de explicar as coisas...mais rápida, invasiva, alta o bastante pra ele defender suas teorias e suas preferências...e eu gosto de ouvir essa voz também, porque evidencia o problema de dicção que ele tem e eu acho tão bonito.

Durante os silêncios eu lhe dizia mil coisas, e acho que ele escutou todas elas de alguma forma...e me confessou algumas outras mil coisas também. Mas eu não me importava com a sua falta de amor em certas horas, porque a gente soltava faíscas e por maior que fosse o meu sofrimento ele me mantinha segura, ele me salvou de mim mesma e eu o salvei dele mesmo, porque sempre fomos os nossos piores inimigos...sempre fomos vilões de nós mesmos, mas com ele por perto eu soltava faíscas de felicidade, sorrisos de boas vindas, lágrimas de amor e suspiros de tranquilidade.

Eu disse em silêncio que o amava, e que por isso iria machucá-lo - ele entendeu.
Eu disse em silêncio que não o amava mais, e que por isso iria deixá-lo - ele entendeu.
Eu disse em silêncio que o amaria pra sempre, e que por isso iria esperar - ele entendeu.
Eu disse em silêncio que o amava mais não acreditava mais nele, e que por isso iria odiá-lo - ele entendeu.
Eu disse em silêncio que sempre iria acreditar nele, e que a gente ia ser feliz - ele entendeu.
Eu disse em silêncio que tudo daria errado, mas que no fim daria certo - ele entendeu.

Ele sempre me entendeu, não por entender tudo que eu dizia, mas por entender que eu sempre dizia alguma coisa...que essa alguma coisa sempre era diferente e que mais cedo ou mais tarde mudaria, mas eu continuaria lá porque eu nunca pretendi partir...ele sempre me entendeu e eu sempre o conheci. E meu mal é conhecer cada centímetro dele...ver a beleza que ele não via em sí...meu mal foi sempre contar tudo...meu mal foi deixar ele me entender...foi por ele ser entendida.

E o mal dele foi entrar sem saber se queria ficar ou sair, foi vender indecisão com o rótulo da certeza e mentir pra si, sabendo que eu o conhecia...não de hoje, não de ontem...de outras vidas.

Ele falava sobre filmes - pelo que me lembro - e gesticulava bastante...olhei bem o rosto dele e permaneci calada e sorrindo em concordância com tudo que ele dizia...observei suas linhas de expressão, seu cabelo milimetricamente bagunçado, seus olhos castanhos e seus ombros bem desenhados, até que ele parou de falar julgando ser aquele um assunto muito chato - discordei de imediato e pedi pra ele continuar. Naquelas horas eu brincava com o tempo enquanto alguma música suave tocava e eu via tudo se movendo devagar...e seu raciocínio se alongava por horas enquanto eu assistia ele todo articulado...e os seus olhos castanhos.

Eu não me lembro mais o cheiro que tinha, mas me lembro da fumaça do cigarro no escuro e todas as cores do dia, e todas as vozes, todos os toques e todas as brigas. Me lembro de todas as músicas e da chuva no meu rosto...do abraço desesperado, do sono...dos olhos castanhos e dos erros meus...me lembro da mão invisível puxando meu coração pra fora todos os dias e me arrancando lágrimas e pensamentos de vingança que nunca consegui concluir...me lembro das faíscas e da mão dele pousando em minha coxa...e não importa quanto tempo passe, eu me lembro.


Kamilatavares.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ode ao amor

Hoje eu descobri que dói muito mais não amar ninguém do que amar e não ser amado de volta. Hoje eu descobri que se eu tivesse tatuado o seu nome na minha testa, por pior que as coisas tenham se tornado eu não me arrependeria, como não me arrependo das outras coisas menos drásticas porém tão loucas quanto.

Quando a gente se decepciona com alguém, fica desejando o coração vazio e gelado feito um iceberg...fica desejando a amargura de um mundo cinza...fica desejando uma vida inteira sem confiar em ninguém...uma vida de solidão! Pra substituir o que? O vazio de saber que o que você tinha de bom acabou? Será que é mesmo vantagem negar ao coração o direito de sofrer? Ora veja bem, o mundo nunca foi justo...e cada pessoa é um mundo...faça as contas! Encontrar o amor da vida é tarefa difícil, requer sacrifícios, paciência e algumas cicatrizes acabam por aparecer normalmente. Pois eu prefiro os acidentes do caminho a ter que viver sem amor.

Terminar com alguém no final não é o único objetivo, não é o único prêmio! A gente acaba se esquecendo do que acontece no meio do caminho. Pois se não fosse por você eu não teria tantas músicas, não escreveria tantos textos e nem encontraria sentido naquele filme que me fez chorar tanto.

Lembre-se de dar uma volta na rua e você vai ver alguma coisa que lembra alguém que você gostou muito...ou ainda gosta! Um cheiro, um lugar, uma música, alguém com o mesmo problema de dicção, a cor do cabelo, dos olhos, o jeito de andar...lembre e tente não pensar nisso com amargura, tente lembrar com um sorriso e você vai ver que muito do que você é hoje é fruto de coisas que você aprendeu com as pessoas que amou; que elas foram importantíssimas no seu crescimento.

Sem amor - seja ele correspondido ou não - a vida ia passar como um rio...e você ficaria lá como uma pedra...então de que lhe serve a amargura?

Eu menti pra lhe afastar e sofri...e aconteceu muita coisa. Mas eu nunca vou escutar uma música do mesmo jeito...eu nunca vou deixar de prestar atenção na risada das pessoas nem no jeito com que elas pegam no cabelo; eu nunca vou esquecer como é se sentir um imã naquele abraço inesperado ou do meu cabelo bagunçado...eu nunca vou esquecer do borboletário no estômago e o coração acelerado...nunca vou esquecer como é imaginar os nossos filhos e como é me deitar toda noite sabendo que eu vou ter o mesmo sonho com cheiro de almoço feito por mim pra tirar o avental e te dar um abraço na hora que você chegasse do trabalho...porque eu nunca quero viver de amargura...porque é melhor sofrer do que viver sem amor.


Kamilatavares

sábado, 18 de janeiro de 2014

A little walk

Da janela do meu quarto
as paredes coloridas e o som da geração do energético exibindo suas linhas fluorescentes, e as fotos, e a praia, e o sol, e os pés, e os biquinis, e a falta de protetor solar e de juízo. 

Nas calçadas as garrafas de cervejas de noites passadas, os mendigos e as moças com seus saltos na mão e suas cabeças baixas escondendo a maquiagem borrada, e a sujeira da ressaca.

Nos ouvidos os fones e alguma música tranquila que ative o slow motion da minha caminhada e me permita observar tudo ao redor, e chinelos confortáveis, cabelos soltos e um sorriso leve.

Na sombra da árvore um cachorro descansa...e me sorri de volta.


Kamilatavares.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Plataforma 17

Eu estava no carro e chovia...chegamos em casa e eu sentia que ele iria iniciar mais uma conversa pra justificar a distância - e assim o fez. Naquele dia ele me confessou que estava namorando...há meses! Naquele dia eu tive a primeira grande crise de choro na frente de alguém que eu havia acabado de perder...ele me consolou - jurei nunca mais escrever sobre ele, jurei nunca mais chorar na frente dele, jurei nunca mais chorar pelas minhas tragédias reais na frente de ninguém - e assim o fiz...ou quase.
Eu estava sentada na minha cama segurando o computador e processando a conversa que eu havia tido. Naquele dia ele me disse muitas coisas, inclusive que me amava...inclusive que queria ficar só...e eu que havia passado quase um ano chorando apenas com os meus filmes, ou ali meio que escondidinho antes de dormir, sem ninguém escutar - caí em prantos e tive a fraqueza de ligar pra minha melhor amiga, que ouviu os meus soluços e dividiu parte do desespero comigo.
Eu estava longe de casa, sozinha fazendo coisas banais...achei uma carta que não deveria ler - mas li. E essa foi a maior crise de choro da minha vida...e liguei pra um amigo que me fez jurar que eu nunca mais olharia na cara dele que tanto me fez sofrer e buscaria a minha paz...dois dias depois eu o vi - e estava na varanda quando começamos a conversar...não me lembro de muita coisa por causa do álcool...mas me senti naquele dia do carro, chorando por um amor que já morreu ou nem mesmo existiu e sendo consolada por quem causou o furacão.
Eu estava na varanda e ouvi ele dizer que tudo ia dar certo...eu estava na varanda e senti sua mão enxugar minhas lágrimas...eu estava na varanda e fiquei só, e na varanda eu prometi não chorar mais por ele.
Voltei pra casa escutando o silêncio do adeus que não foi dito e agradecendo pelos amigos que fiz no meio do caminho...esqueci de tirar todas as fotos...esqueci de (quase) todos os abraços de despedida, esqueci de escrever no diário de bordo, esqueci meu shampoo, minhas sandálias roxas, um prendedor de cabelo e outros tantos pedaços de mim.
Quando uma guerra acaba os rastros dela ficam pra trás...nunca é o fim de fato porque leva tempo pra reconstruir as cidades, refazer tudo, procurar as famílias que se perderam, enterrar os entes queridos e enxugar as lágrimas e as manchas de sangue que ficam nos que sobreviveram...e vivemos guerras internas contra nós mesmos...morremos e sobrevivemos, prometemos e descumprimos, choramos e nos reconstruímos ao longo dos dias...nos escondemos em trincheiras e depois saímos em desfile cantando vitória, mas na vida não se vence, só se vive...porque vencer significa a derrota de alguém, mas na vida sozinho ninguém comemora...e naquele dia eu assinei o meu tratado de paz!


Kamilatavares.