segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma carta para Gi Adelis.


Uma das maiores manifestações de amor, surge da amizade. Aquela que é verdadeira sabe? Escancarada, explicita. E foi assim com ela, que no começo tinha tudo pra me odiar, e a recíproca era mais que verdadeira. Mas sabe de uma coisa?! Amizades que surgem de momentos difíceis, agüentam qualquer tipo de tempestade como uma casa construída numa rocha.
Eu tinha uns 13 anos ou menos, e ela era tudo que eu odiava numa menina. Barulhenta, espalhafatosa falando sempre apontando aqueles dedos tortos, amiga de todo mundo, rebelde sem causa “PORQUE TODO MUNDO ME ODEIA, MEU PAI ME ODEIA, EU SOU INCOMPREENDIDA BLA BLA BLA”, mimada, SENHOR, COMO ERA (e ainda é) MIMADA. Eu odeio gente mimada; e gostava de escutar cada coisa que meu Deus, me causava náuseas.
Eu por outro lado, era defensora da moral e dos bons costumes, da obediência (QUEM ME VIU, QUEM ME VÊ). Andava de qualquer jeito sem preocupação nenhuma se a roupa combinava com a bolsa que combinava com o sapato (na verdade nem bolsa eu usava, saia metendo tudo dentro dos bolsos das calças cargo femininas que se usavam naquele tempo). TUDO QUE ELA ODEIA. E por uma marmota do capiroto, fomos parar no mesmo curso.
Mas convivência é uma merda mesmo, ela me odiou mais ainda, e quando eu pensei que a criatura tinha melhorado, ela piorou. Passou de fingir que eu não existia, pra soltar bomba em mim mesmo, era ataque massivo.  E eu que queria soltar um Pit Bull em cima dela toda vez que ela usava aquela camisa de teatro mágico, sentia o olhar dela de quem ia me dar um tiro quando eu usava meias cor de laranja.
Não me perguntem o dia, nem a hora, nem o porquê. Sei que as duas, meio que ao mesmo tempo, resolveram sair das trincheiras e levantar a bandeira branca; houve um tempo de guerra fria, em que pequenas aproximações e descoberta (ou melhor, reafirmação, porque a descoberta já tinha acontecido, a gente só não admitia) de coisas legais em comum se mesclavam com pequenos toques de acidez.
Então eis que a guerra fria acaba, só “senti firmeza na brogadem” quando ela ficou em casa por longos dias sem poder sair, toda enfaixada usando camisola sem mal poder mexer os braços (porque gente, quem não tem seus momentos de Michael Jackson na vida não é mesmo?! ) e eu fiquei o tempo todo lá.
Foi ai que as duas viram que quando o sapato apertava, uma podia correr pra outra, e chorar, e se lamentar, que a outra sempre iria ter a palavra certa de consolo “QUEM MANDOU SER GORDA? CÊ PENSA QUE GORDO PASSA NA PORTA DO CÉU? PASSA NÃO VIU!?”. Foi ai que a gente descobriu, que uma estaria disposta a ajudar a outra o tempo todo “MULHER TU É ANALFABETA OU O QUE?” “QUE MERDA É ESSA QUE VOCÊ TÁ VESTINDO?” “USE ESSE SALTO E CAIA NO MEIO DA RUA QUE EU DEIXO VOCÊ CAIDA E AINDA VOU RIR DOS SEUS DENTES QUEBRADOS”.
E foram muitos dias de ligações durante a madrugada pra chorar as mágoas pra outra, de histórias longas inacabáveis eternas que eu contava e ela sempre dormia na metade, de filmes que eu assisti só porque ela também dormia na metade, de voltar das festas e praticamente cair da cama porque ela ocupa muito mais da metade do espaço da cama.
E meus pais a adotaram, e os pais dela me adotaram, nutrimos a mesma falta de amor pelos irmãos e irmãs chatas (temos muitos) e a mesma mania de falar alto.
Eu ainda odeio o fato de gostar de trancar todas as portas, e ela deixar todas abertas, odeio ela me cutucando com aquele dedo torto horroroso enquanto fala comigo, odeio simple plan, loser manos, teatro mágico e essas viadagens que ela adora.
Mas ela me agüenta cantando Zezé di Camargo e Luciano, escutando brega, ela suporta minha negligência com os mil convites que ela me faz e eu esqueço de mais da metade, ela agüenta a minha falta de atenção com os aniversários, natais, páscoas, que ela faz questão de fazer mil festas e planejar mil coisas e cortar mil convites enquanto eu não dou a mínima importância. Até porque tenho preguiça de fazer cartas e coisas minuciosas, não sou nada perfeccionista. E acreditem, só estou escrevendo isso, porque não estou com um pingo de sono, minha internet caiu, e eu cochilei e sonhei que ela era o Dumbo de verdade e chegava voando em um show meu.
Ela prepara cartas e presentes bem elaborados pra mim, eu cozinho pra ela quando ela ta com fome (ou seja quase sempre, toda hora, todo minuto) e cuido dela (pfffffff) quando ela fica só em casa sobrevivendo de MIOJO.
Ela vai a todos os meus shows, opina, grita, chora, esculhamba, não bebe pra cuidar de mim e rir das merdas que eu faço (E OLHE QUE SÃO MUITAS) e sempre que uma precisa, a outra aparece com a esculhambação mais apropriada pro momento.
Sabe como eu sei que é amizade de verdade? Não tem falsidade de “ai amiga você ta linda, magra, seu cabelo ta lindo, sua make, ai comprou esse sapato onde?” com ela é chamando de gorda, encalhada, uma fala mal do cabelo da outra, da roupa, da vida (claro que a gente se elogia, mas quando sua amiga compra uma tiara nova, a maneira mais fácil de dizer que você notou, é falando da orelha de abano dela que ficou mais visível)
E eu sei que quando eu casar, ela vai estar lá, chorando e comendo todos os doces segurando uma placa gigante com a frase “MINHA AMIGA DESENCALHOU, PFV MT FELIZ AHAZZOU MIGS” e eu vou fazer a mesma coisa no casamento dela.
Eu sei que um dia, uma das duas vai ter um filho e a outra vai sair gritando “MEU DEUS COITADA DA CRIANÇA Ó A MÃE QUE ARRUMOU, VEMK MORAR COM A TITIA QUE EU SOU MT MAIS LEGAL” . E vai ser assim...pra vida toda.
Eu sou uma amiga meia boca as vezes, eu sei Adelis (ou Gi, ou Gorda, ou Dumbo) mas sei que você me perdoa porque você não vive sem mim e me ama pra sempre amém. Hauhahuuhauhauhauhauhauh.
Você já inspirou alguns poemas aqui no blog (graças as suas burrices de amor), mas esse texto é diferente. Ia ser uma carta de feliz aniversário, que eu , é claro, esqueci de fazer, então feliz aniversário atrasado, sua gorda. Te amo. ADELIS EU ESCOLHO VOCÊ, POKÉBOLA VAAAAI!!.


kamilatavares.

domingo, 27 de maio de 2012

Das primaveras que não vivi.

Eu sempre acordava mais cedo que ele...nunca tivemos sono agitado então acordava sempre na mesma posição, encolhida com as mãos entre as coxas, e ele sempre descoberto, abraçado a mim, que fazia seu peito de aconchego pra dormir. Então ficava ali olhando aquele sono preguiçoso por uns cinco minutos antes de me levantar. Ele dormia do lado esquerdo da cama, encostado na parede, a janela sempre deixava escapar um raio de sol que o incomodava pela manhã, eu gostava de ver as expressões que ele fazia tentando manter o sono enquanto o sol avisava que já era dia; então me levantava e cobria seus olhos.
Uvas e iogurte pra mim, ovos com bacon pra ele. E flores amarelas em cima da mesa, com aquele cheiro de café quente que ele adorava...nunca gostei de café, mas tive que aprender a fazer, e nessas horas lembrava da minha mãe que toda tarde espalhava cheiro de café pela casa. Café mantém o casamento acordado, já dizia o meu pai. O meu, por sua vez, era mantido pelo café e os Ovos com bacon. Desde que me mudei acho que ao passo em que fui emagrecendo, ele foi engordando, mas não de forma exagerada, só aquelas gordurinhas boas de se pegar pra fazer massagem numa tarde preguiçosa qualquer.
Toda manhã eu me desafiava a fazer o mínimo de barulho possível, gostava de levar o café lá no quarto pra aproveitar o resto da preguiça na cama, preguiça era o nosso sobrenome nos finais de semana, pra compensar a correria dos outros dias.
Ele sempre me dava um beijo de bom dia, bagunçava os cabelos, brincava com a comida e depois ia lavar a louça enquanto eu tomava banho, depois era um revesamento entre rede e violão, sofá e video game.
Como todo casal tem briga, todo dia era uma briga entre os meus beatles e o pink floyd dele, entre ir comer fora ou testar uma receita nova do meu caderninho, entre qual álbum de qual banda era melhor, e uma briga maior ainda pra escolher o filme da noite. Então ele pegava umas cervejas e a gente escolhia tudo no ímpar ou par, pra ser mais democrático.
Eu pintei as paredes da sala com uns desenhos e referências musicais, ele desenhou algumas das minhas tatuagens, eu escolho todo dia as roupas dele, ele decorou o nosso quarto...e assistimos, todos os domingos, a rodada do brasileirão; claro que não torcemos pelo mesmo time, e acho que é por isso que eu o amo tanto, pelo fato de ter com quem discutir futebol. Sempre deixo alguma coisa pra beliscar ao alcance das mãos, e cada um tem a sua vez de ir buscar a cerveja, que geralmente é na hora do gol. Porque a cerveja sempre acaba na hora do gol? Nessas horas me bate a vontade de acender um cigarro, mas ele me fez parar, ele me fez emagrecer, ele me fez usar mais vestido e salto alto, pintar as unhas toda semana, deixar o cabelo crescer, pintar, me tatuar, ele me fez aprender a amar, me fez saber o que é ter um abraço seguro, ele me fez ter um beijo preferido que é só o dele e o de mais ninguém. Ele me fez largar o rancor e voltar a cozinhar, gostar de ficar em casa e ter alguém pra cuidar. Eu fiz ele conseguir passar mais de uma semana com alguém, fiz ele aprender a gostar de imperfeição, parar de procurar o melhor do melhor de tudo e observar os pequenos defeitinhos que deixam qualquer coisa única, ensinei que ele não precisa dobrar todos os lençóis da cama se eu sempre vou pular lá e bagunçar tudo daquele jeito que ele odeia.
Então depois da tensão do jogo, a casa se enchia de cheiro de incenso, era o jeito que ele tinha pra me pedir uma massagem, seguida de um cochilo preguiçoso pra guardar as energias pra sair com os amigos pela noite.
Então eu tomava meu banho antes, pra que quando ele terminasse o dele eu já estivesse devidamente arrumada, terminando a maquiagem. Assim ele nunca me esperava, logo, não ficava impaciente. Ele sempre saia do banho cantando e dançando qualquer música boba que me arrancasse boas risadas. O sorriso dele é das coisas mais bonitas de se ver quando brinca assim, feito criança. Então eu escolhia uma roupa bem bonita, e ele decidia que perfume eu ia usar, e a cor do meu batom.
Nossos amigos, OS MELHORES! Diversão na certa pra todos os finais de semana, e todos falavam sobre como a nossa sintonia era perfeita, entre uma reclamação minha de que ele não sabe lidar com a derrota do time dele, e um olhar de quem ganha todas as discussões que ele me lançava nessas horas.
Ele era um péssimo cozinheiro e eu uma péssima motorista, por isso um não vivia sem o outro. Não tinha essa de amor de contos de fadas. Era realidade, arroto na mesa, barba mal feita, TPM, filme no final de uma noite e muita louça pra lavar no outro dia. Era sempre ensolarado e frio, como a gente gosta.
E assim foram os dias de glória das primaveras que eu nunca vivi, poéticos.


Kamilatavares.

sábado, 26 de maio de 2012

A cigana.

Eu vejo as pessoas de formas diferentes dentro da minha cabeça sabe?! Aqui no meu mundo nada funciona da forma normal...e ela sempre foi uma Cigana. Eu sabia que ela viria com uma notícia ruim, me daria as costas e desapareceria com o vento...e foi como nos meus pesadelos.
Ela é uma cigana impiedosa, ela sabe das coisas, ela viveu entende?! E foi assim que ela me cortou em pedaços com a adaga do passado. Chegou de repente, pegou a minha mão mas não leu, apenas apontou tudo que eu queria e disse que eu nunca teria, segurou o meu rosto me obrigando a olhar fixo nos olhos dela pra me fazer entender aquela que eu nunca iria ser, e foi embora.
Doeu. Mas eu sabia que isso ia acontecer...eu já sabia de tudo antes...e insisti por pura teimosia. Mas essa sou eu, teimosa!
A cigana foi embora com sua missão cumprida e eu fiquei sentada em alguma rua escura chorando e sangrando aquela dor que ainda dói e que eu não sei quando vai passar, então ele me encontrou e quis saber a todo custo o motivo de tanto sofrimento. Claro que eu não disse! Eu nunca digo...mas não quer dizer que eu não deixe a entender.
Ele tentou suturar os cortes maiores, enxugar minhas lágrimas, mas por dentro só eu sei.
Ah eu tenho aguentado tanta coisa pelo bem de uma causa que eu nem sei qual é...só sei que a cigana vai voltar...e vai ser pior...talvez eu não consiga aguentar. Ela tem o passado pra me ferir e dessa arma eu não sei como me defender, ela me fez entender o que ela passa quando eu revido, baixei a guarda, me senti vulnerável e indefesa em todos os sentidos...acho que amor é isso...
Sou humana, tenho medos...o jeito é correr já que não posso me defender...desculpe meu amor...vou ter que virar as costas. Só espero que a cigana entenda e não me jogue uma adaga nas costas.
Vou levar comigo todas as manhãs de domingo, seu cheiro e o seu sorriso, todos os abraços, os beijos, e as declarações não declaradas...contra o passado não se pode lutar...levarei o meu na viagem. E te deixo o meu último "eu te amo" e todos os mimos que você possa carregar consigo sem dor.


Kamilatavares.

domingo, 20 de maio de 2012

Beauty

Ela não é alta, ou tem longos cabelos loiros e milimetricamente lisos; andava do jeito dela, sem vestir aquelas roupas que todas as meninas vestem sabe!? Sorria do jeito dela também, não era um sorriso fabricado por dentistas e anos de aparelho. Ela definitivamente não era comum, mas ela era BONITA.
Interessante pra mim ouvir tantas pessoas pronunciarem tal palavra sobre ela, não precisava conhecer, bastava ver ela passar. Desde quando a vi sabia disso, mas comecei a me questionar ultimamente.
Ela não tinha um corpo de academia, uma voz sexy, roupas sensuais...nada dessas coisas. E me senti idiota por tentar me enfiar na forma de todas as mulheres iguais pra suprir a auto-estima que me roubaram sabe?!
Por fim eu descobri que pra ser bonita não precisa ser alta-magra-sexy-fã de comédia romântica-fresca ... pra ser bonita basta ser bonita uai! Dá pra me entender?! É só botar pra fora tudo aquilo que você gosta, e não ter vergonha de ser você. Todos os dias pessoas tentam se adaptar a padrões buscando aceitação sabe porque?! Porque tem "amigos" que acham muito mais fácil mandar a pessoa mudar, do que tentar se adaptar ao outro do jeito que ele é. Tudo tem limite. Existem coisas que merecem ser mudadas, pequenas coisas que fazem parte das mudanças da vida de cada um, e que acontecem de tempos em tempos...um tal de crescimento sabe?! Mas nunca amigos, NUNCA tentem entrar numa forma que não é sua! Seja você mesmo, se orgulhe disso, e você vai ver como é bom se sentir bonito.


Kamilatavares.

domingo, 13 de maio de 2012

(Im)perfeição



Ah, eu adoraria dizer que te amei desde o dia em que te conheci, me soa tão mais bonito que eu chego a sentir o cheiro de pipoca numa tarde de domingo assistindo aquelas comédias românticas; mas não foi assim. Na verdade nem me lembro do dia em que te conheci; quando dei por mim já estava acostumada com seus acenos quando me encontrava nos lugares por ai.
Acontece que comigo o processo foi mais demorado, você sabia tanto de mim e eu nada sobre você, e de repente me caiu uma chuva de pessoas em coro gritando sua perfeição pra todo mundo ouvir. Mas se ele é tão perfeito, porque não me causou interesse?
Pobre de quem acredita na perfeição humana. É tudo que digo sobre isso. Hoje te amo e digo isso de todo coração não porque você é perfeito (até porque perfeito é algo que você anda longe de ser), mas porque eu consigo contornar seus defeitos, e você me faz melhorar pra amenizar os meus. Perfeição é isso, reconhecer os defeitos...e no caso dos seus, foram a primeira coisa na qual eu reparei.
Não me leve a mal mas sua imagem me era totalmente desinteressante, de alguém que me cuspia um status no qual eu não me interessava e tentava me empurrar garganta abaixo uma prestatividade e uma admiração por mim que eram de plástico. Daí não me importava o que diziam, aos meus olhos não havia beleza alguma em alguém que só falava e só pensava em si. Pode soar meio rude, mas era o que eu pensava. E depois descobri que é assim com todo mundo que você conhece, não entendo como não enxergam...mas tudo bem.
Mas no dia em que eu te achei bonito, tudo mudou. Quer conhecer uma pessoa? Fique a sós com ela. Sem influência de amigos, sem música ambiente, sem Google pra pesquisar algum assunto interessante você acaba descobrindo o que de fato aquela pessoa tem a lhe oferecer em troca da sua atenção. E ele me ofereceu a beleza. Com a boca lambuzada e uma bagunça de guardanapos em cima da mesa enquanto me contava trivialidades sobre o quão desastrado ele era, e como ele era uma criança diferente. Sem posses envolvidas, sem nenhum tipo de intelectualidade sendo empurrada pela minha garganta eu pude realmente ver sua beleza. Ouvindo sobre o que ele pensava da vida, olhando o sorriso quase que infantil, bobo, inocente dele, descobrindo um ponto fraco, um defeito, alguma coisa que o tornasse um ser humano pra mim...foi assim que eu o vi bonito.
Então eu o amei em cada história de férias, em cada piada interna sem graça pra quem não o conhecia, em cada relato de travessuras infantis, em cada suspiro de nostalgia ao lembrar de antigos namoros, antigos amigos, antigos lugares...então ele ficou mais bonito a cada dia em que eu descobria como ele enxerga a vida, o que ele pensa das coisas, seus olhos ficaram mas brilhantes quando pude saber como era enxergar através deles, quando te conheci por dentro, pude ver a maravilha que era te ver por fora. Sou como a Mary Lennox do Jardim Secreto, sou toda ao contrário, me apaixonei ao contrário, te amei ao avesso.
Cada pessoa carrega uma história, é a engrenagem que move meu coração, saber a história das pessoas e querer ou não participar delas. E eu desejei insanamente participar da sua; e participo, talvez não da forma que eu sonharia, não da forma com que alguns torcem pra que seja, mas da forma que nos cabe entrar na história do outro. E fico feliz com isso.
Todos já te amam tanto nessa mania chata de acreditarem que em você habita alguma perfeição que tal fato me intimida, me aborrece ao ponto de escrever tudo isso pra dizer que amar as qualidades de alguém é muito fácil, é muito bonito, cômodo, apropriado. Eu te amei (e amo) pelos seus defeitos, te amei depois de cada arroto dado a mesa, depois da barba mal feita, depois de jogar na cara tuas falhas e escutar você jogar as minhas falhas na minha cara também, pra dizer que eu te achei bonito todo descabelado gritando bêbado no caminho de volta pra casa e mais ainda quando você ainda tão bêbado me soltou um “eu te amo”; pra dizer que é muito fácil te achar perfeito todo bonito e cheiroso ensaiando uma prestatividade de plástico e um sorriso perfeito de “temos bom gosto musical” pra quem você mal conhece...mas eu...conheci cada centímetro do seu corpo a ponto de ouvir que somos um só pra dizer que mesmo com toda sua chatice eu ainda quero ficar.
Talvez seja por saber quem você é e conseguir contornar teus defeitos que eu custe tanto a ir embora, a desistir, a te deixar e me deixar descobrir outra pessoa tão grande em mim quanto você. Porque de todos os garotos imperfeitos você é o único que eu não tenho vontade de matar lentamente; não me leve a mal se minhas declarações são assim...dizer que você é lindo é fácil de mais, e você já ouviu isso várias vezes...eu encontrei a beleza no seu cabelo mal cortado,  na sua arrogância enquanto dirige e nas horas em que você abre o coração mostrando certa fragilidade que chega a ser compatível com a minha e se declara com um “Eu te amo, mas você engordou” e eu respondo com um “também te amo, adorei suas novas estrias”.

Kamilatavares.

domingo, 6 de maio de 2012

Home.


Voltei pro tempo que eu conversava com o sol
que visitava todo dia minha janela
e era mágico ter tudo aquilo
lembrei de como tudo era bonito lá do alto
eu respirava fundo e sentia aquele cheiro de lar
de andar por todas as ruas daquele lugar que era meu
onde eu aprendi as melhores e piores coisas
onde os domingos eram alvi negros e barulhentos
com cheiro de churrasco, risadas e violão
onde eu cresci ao redor das mesmas coisas
que aprendi a amar
se soubesse nunca teria deixado o meu lugar
nem sei depois de tudo onde eu vim parar
se crescer já é ruim, imagine longe de casa
e me pego de olhos fechados
esperando o vento frio e a voz do sol
pra me dizer que eu posso ficar ali o tempo que eu quiser
que a minha janela vai sempre esperar por mim
que o tempo parou no dia que eu virei as costas e fui embora
e quando eu voltar as coisas vão estar exatamente como eu deixei
nenhum rabisco a mais na velha escrivaninha
minhas bochechas rosadas, os cabelos grandes
e aquele sorriso de quem está no lugar certo
aquele que é seu, e de mais ninguém.

Kamilatavares.

I'm coming home
I'm coming home
Tell the World I'm coming home
Let the rain wash away all the pain of yesterday
I know my kingdom awaits and they've forgiven my mistakes
I'm coming home, I'm coming home
Tell the World that I'm coming...





Pra ouvir : In my life - Beatles


Pra Guilherme Nery, que sabe a diferença entre uma casa e um lar.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Strong enough


baby,você me deixou roupas
com cheiro seu pra guardar
baby, você me deixou lembranças
das quais não quero me livrar

i just need to be strong enough

moço eu não quero ter que ver suas costas ao partir
você não precisa secar meu choro antes de ir
fecho os olhos na varanda, teu abraço vem até mim
e o travesseiro perfumado que você deixou aqui

Sou pequena pra esquecer de tanto amor
preparei o seu café, i'm not gonna let you go
acordei meia hora antes pra olhar você dormir
com você aqui pertinho é tão fácil me ver sorrir

i just need to be strong enough

Sei que amanhã vou acordar sem você
por isso tirei vários cochilos
guardei um milhão de noites
dessas 24 horas com você

Agora vá, meu bem, pode partir
preciso crescer, aprender, evoluir
make me grow up
vou ficar bem aqui

i just need to be strong enough.


Kamilatavares.


Para Gisele Dutra, por ser um quase poema tão "ela" ;D