sábado, 22 de setembro de 2012

Sobre o balanço e as despedidas

Eu não me lembro exatamente quando ele chegou, talvez antes mesmo de eu ter vindo ao mundo...só lembro que ele sempre esteve lá em cada volta pra casa, em cada fim de tarde...
Aquele balanço feito de ferro, preso ao chão... que já foi um dia branco, vermelho, amarelo... foi o meu companheiro de todas as tardes, desde a época em que não conseguia tocar o chão com os meus pés, e precisava da ajuda do meu irmão pra me balançar, até o dia em que eu fiquei tão grande que mal cabia nele... sempre!
Lembro que eu tinha uns 6 anos, um amigo do meu irmão se sentou nele, segurando sua cerveja e rindo e eu cheguei autoritária demarcando o meu território ordenando que ele se levantasse, como ele não o fez, em vingança dei-lhe uma martelada no joelho...e até hoje essa história é contada quando o tal amigo vem nos visitar.
Eu chegava todas as tardes da escola, jogava a mochila e ficava ali por horas me balançando...olhando pro céu...esperando o jantar. Brincava de bicileta, jogava bola, soltava pipa...mas no fim de tudo eu entrava em casa pra me balançar...e assim foi a minha vida toda.
Quando eu entrei na faculdade e cheguei em casa cansada e feliz depois do primeiro dia de aula, não vi o meu balanço no jardim...minha primeira reação foi entrar em casa gritando tão autoritária quanto a kamila de 6 anos com um martelo na mão exigindo satisfações sobre o paradeiro do meu balanço, e encontrei o meu pai, uma caixa de ferramentas e uma pilha de barras de ferro desmontadas e lixadas, sem cor alguma! Meu pai, por sua vez, olhou pra mim e disse "Já estava na hora...eu vou trocar a grama...e você cresceu".
Com toda a informalidade que o momento pede, eu tenho que dizer que bixo, eu choreeeeeeeeeeeeei sentada no batente do terraço olhando pro vazio do jardim, sem ter onde me balançar...chorei feito criança meu amigo! Mas passou, eu cresci.
Se passaram mais ou menos três anos desde que o meu balanço havia sido desmontado, e uma semana antes do aniversário de 6 anos do meu sobrinho, eu entro em casa e sinto um cheiro de tinta forte...quando cheguei no quintal o meu balanço estava lá, montado, vivo outra vez e com uma cor de ouro linda...a tinta estava fresca então não pude me balançar, mas olhei pra ele por um bom tempo, quando meu pai chegou e disse "Eu montei o balanço de volta, vou dar de presente a Arthur"...eu olhei intrigada e perguntei "Mas o balanço não cabe lá...vai ter que ficar aqui em casa" e uma ponta de felicidade me invadiu, só pela possibilidade de ter o meu balanço de volta; então meu pai me olhou e disse "Ele se muda pra Caruaru na semana que vem, foi decidido de última hora, e o balanço cabe lá na casa nova!... Esse balanço já foi do seu irmão, seu...e agora é a vez dele...e assim por diante..."
Uma semana se passou, meu sobrinho completou seus 6 anos, escolheu como tema do aniversário o meu desenho preferido, porque de alguma forma ele já sabia que nossa convivência diária iria diminuir drasticamente, e então hoje ele pegou suas malas, meu balanço, um pedaço do meu coração e foi embora.
Nessas horas eu percebo a dor que me causa essa história de ter que crescer...de saber que com o tempo a gente vai ganhando maturidade ao passo em que vai perdendo certas coisas, e também certas pessoas. É fato que eu não perdi o meu pequeno, mas não vou ter mais ele aqui todos os dias comigo, brincando de Jaspions e escutando Motorhead, e é fato também, que eu vou ter que aceitar o fato de não ser mais a menina durona segurando um martelo pra ameaçar quem quer que chegue perto do seu balanço.

Time to let it go!

Kamilatavares.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A ida...a volta...

E foi nessa de "deixe ir, se voltar é seu" que eu fui perdendo muita gente por ai, mas olha mesmo, ele voltou como um filho pródigo, e todo dia ele abre mais os braços e aumenta mais o sorriso quando me vê. Eu por minha vez, morro de medo de ver ele ir mais uma vez e dessa vez não voltar mais...ainda não aprendi a conviver com as inconstâncias alheias...não sei se viro amor ou orgulho diante disso.
Só sei que é como se algum personagem de final de filme baseado em fatos reais se sentasse no banco da praça ao meu lado e pousando a mão no meu ombro falasse que nós de fato estamos fadados ao fracasso da eternidade de saber que fomos feitos um pro outro e ao mesmo tempo nunca vamos dar certo, e vamos ter uma vida pra fracassar buscando um ao outro em outras pessoas...só pra depois voltar ao local de origem e respirar fundo naquele abraço de "é, nós tentamos...mais uma vez".

Kamilatavares.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Coma

É uma insuficiência respiratória, cardíaca, sentimental...uma falência múltipla do amores dentro da gente que hoje em dia vivemos em coma, entubados e presos em nossas macas recebendo aquele soro de ideias ultrapassadas, preconceitos doentios, julgamentos, opiniões negativas, intrigas, energias negativas...
Precisamos largar desse vício de viver na amargura, de reprimir o que é bonito, de deixar morrer na garganta aquele eu te amo, de privar os nossos braços de outros braços, nossas mãos de outras mãos...
Acordei com essa sensação de não desistir, de reverter o quadro clínico desse amor que só machuca, que só nos faz trajar o luto da falta de esperança nas pessoas, da descrença... acordei querendo ver sorrisos, sentir abraços e respirar fundo aquele ar fresco na sombra de alguma árvore...
Eu quero sair do coma, gritar poemas de Vinícius de Moraes, ser clichê mais uma vez na vida, deixar a máscara de menina de gelo cair...quero um recomeço!

"É meu amigo só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor..."


Kamilatavares.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Labirinto.

Fui tão longe no labirinto dele, derrotei tantos monstros e consegui voltar inteira de tal forma que isso o assustou! Agora eu sei todos os segredos, todas as passagens secretas, os caminhos de ida, de volta, as regras, as brechas...se ele vacilar eu vou saber!
Então o rei da terra dos labirintos, vendo que eu havia vencido todos, me baniu de suas terras, porque eu agora, sabia o que se passava sob sua coroa, sabia os truques de falsidade e as mentiras que seguravam seu status como os pilares que seguravam os templos.
Olhar pra mim era como ver nos meus olhos quem ele realmente era por trás da pompa, e ele não gostava do que via, ele não queria o espelho das inseguranças, dos corações partidos, dos amigos abandonados como objetos, das cabeças nas bandejas de prata... ele não queria ver a língua venenosa por trás do sorriso bonito, nem as mentiras ao som daquela voz doce...não queria ver o beijo da morte nem o afago do abandono...
Mudar é difícil...é mais fácil banir aqueles que nos querem verdadeiros, despidos das atuações diárias do que expor o verdadeiro eu em praça pública! E é assim que a vaidade se alimenta de nós, nos sugando aos poucos de forma que só nos damos conta do que está acontecendo quando nos tornamos secos! Porque por ora, é muito mais fácil aproveitar o divertimento diário dos igualmente revestidos de vaidades, pompas e mentiras, do que tentar subir a escada do aprendizado moral pra se tornar uma pessoa melhor.

Kamilatavares.