segunda-feira, 25 de março de 2013

Trivialidades.

Não! Eu não quero esse bar...prefiro aquele ali no fim da rua, porque tem as cadeiras vermelhas...ah...você sabe que eu adoro vermelho! 
Meu ar condicionado quebrou hoje, você pode olhar amanhã?! É que anda um calor danado desde a semana passada, e eu tenho aqueles problemas pra dormir...sabe como é! Sim, claro...eu adoro essa cerveja, pode pedir. Claro que te faço um café amanhã... não vou trabalhar de qualquer forma; ganhei uma folga essa semana, vão fazer manutenção nos computadores do andar inteiro e fomos liberados! Pois é, quanto tempo! Te vi semana passada no shopping mas aquele inferno anda tão cheio de gente que não consegui passar pelo bando de adolescentes pra ir te dar um 'oi'. Também adoro essa música...a gente deveria vir mais aqui mesmo...claro! Só marcar o dia. Comigo anda tudo na mesma... o mesmo cansaço de sempre, e a correria parece que só aumenta! Mande um beijo pra sua mãe também, diga a ela que também sinto falta dos bolinhos de queijo...ela é uma graça! Bons tempos aqueles né?! A gente tinha tanto tempo livre...ê saudade!!! A saideira então...a gente se vê por ai! Te ligo sim, podexá! Tchau!

Kamilatavares.

domingo, 24 de março de 2013

Sobre o luto.


Entra...mas não repara a bagunça; é que andei bebendo muito, comendo pouco, dormindo quase nada e esquecendo de abrir as janelas. Os boatos são verdadeiros, agora você pode ver com seus próprios olhos...ela foi mesmo embora. O ruim de quando alguém que a gente ama morre é saber que a pessoa não teve escolha, ela poderia ficar comigo pra sempre, ou me trair, ou ir embora simplesmente ou até ter um filho meu, criar um cachorro, plantar um jardim... mas ela foi levada sem ter o direito de escolher que chá ela tomaria amanhã.
Se sente...mas não repara na falta de fotos; eu guardei todas numa caixa lá no quarto, junto com aquelas cortinas que ela bordou e as almofadas preferidas dela. De repente aquela porção de fotos espalhadas pela casa me assombraram e me fizeram mal. Os olhos verdes...não consigo parar de pensar nos seus olhos verdes...e nas tardes que ela passou bordando aquelas cortinas.
Ela tinha tudo que se esperava de uma mulher pra passar o resto da sua vida agarrado a ela. Sabe aquela inteligência assustadora?! Ela conseguia manter o nível da conversa sempre elevado e falava bem sobre quase todos os assuntos. Por vezes eu me perguntava de onde vinha tanta coisa que ela sabia...e aquele sorriso!!! Era o melhor bom dia de todos...ver ela sorrindo e sempre que percebia meu olhar de admiração se envergonhava e colocava a mão na boca "não amor...acordei com bafinho". Sem contar nas coisas maravilhosas que ela cozinhava e tudo nela...simplesmente tudo me agradava.
Pode fumar aqui sim, aproveita e me dá um cigarro que eu vou fumar também...mas não repara se eu chorar na sua frente. Eu sei que uma das coisas mais estranhas do mundo pra você é ver um marmanjo como eu chorando, são momentos raros...mas não tenho mais aquele emocional invejável. Nem aquela aparência invejável...nem sei há quantos dias eu não faço a barba, ou passei um pente no cabelo. Não...não se preocupe. O luto não dura pra sempre meu caro irmão, e um dia eu vou voltar a ser aquele cara organizado...mas por enquanto deixa a merda feder...foram 5 anos de sangue, suor e América do Sul perdidos em uma noite de angústia naquele maldito hospital. Me deixe sofrer...pelo tempo que eu precisar.
Eu preciso que você entre lá...mas não repara se eu tentar fazer você mudar de ideia. É que tem umas coisas dela pra empacotar, e eu preciso que você faça isso por mim. Não vou ter coragem, na boa! Mas deixa aquele vestido amarelo que ela usou naquele almoço na sua casa, no dia que eu a conheci. E os sapatos vermelhos de usar todas as sextas. Ela amava aquele sapato! Deixava ela da minha altura, toda sexta ela me dizia isso...salvo essas duas coisas, empacote todo o resto e leve daqui...a mãe dela andou me ligando, por favor diga a ela que eu estou bem, que apareço lá semana que vem pra deixar algumas coisas que eu gostaria que ficassem com ela, o presente de dia das mães que a gente já tinha comprado antes do acidente e aquela canequinha que ela tinha desde o tempo da escola.
Tudo bem...me abrace só hoje...mas não repara se eu me acostumar. Talvez eu volte um cara mudado...desses mais - como é que se diz? - inclinado a abraçar os amigos e dizer que ama as pessoas importantes. É que de repente a gente descobre que cada dia pode ser o último, e depois que eu limpar esse apartamento - e me limpar também - eu não vou poder me dar ao luxo de perder boas oportunidades. No mais é isso...


Kamilatavares.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dos verões que ainda não tive.


Depois que eu aceitei o seu primeiro café tudo foi mudando aos poucos, e quando pisquei os olhos já tinha aceitado suas tardes, seus cafunés, seus dias de barba mal feita e a cópia das chaves do apartamento. Ele aceitou aquele avental que eu pintei, minha coleção de escovas de dente, minhas receitas que não deram certo, minha bagunça nos dias de jogo e os meus livros espalhados por todos os lugares.
Minha gaveta aos poucos foi virando metade do armário, e eu me dividia entre cuidar do apartamento, escrever minha monografia e deixar o café pronto pra quando ele chegasse cansado do trabalho. Ele gostava do café que eu fazia pra ele (que só ficou bom porque ele me ensinou a fazer) e eu do cafuné que ele fazia em mim quando deitava no sofá cansado depois do banho e me chamava pra ficar pertinho dele; não importava o quão cansado ele estava, sempre tinha tempo pra ser aquele cara mais fofo do mundo pra mim, com aquele sorriso de quem já está quase dormindo.
Ele estava longe de ser aquele quase loiro alto que eu sonhava em ter, mas tinha mel nos olhos, o universo no sorriso e os braços mais acolhedores do mundo. E desde o primeiro dia eu nunca me cansei daquele meio sorriso dele formando covinhas nas bochechas, nem do jeito que ele cerrava os olhos e me elogiava.
Lembro que ontem, antes de dormir ele me contou o que sentiu no dia em que me conheceu enquanto fazia voltas no meu cabelo; e falou do medo que ele teve de se aproximar, e o alívio que sentiu quando eu fui simpática com ele e sobre como ele quis me abraçar forte quando eu disse que era fã do Motorhead. Eu não pedi por nada daquilo, mas precisava tanto ouvir o que ele tinha a me dizer. Só foram surpresas boas desde que eu o conheci! E ainda dizem que sair sozinha é ruim...pois eu agradeço até hoje por ter saído sozinha aquela noite, e por ter tido tempo de arrumar o meu cabelo e passar aquele batom que fez ele chegar perto de mim. Agradeço por ter encontrado alguém que nunca teve medo de dizer as coisas que sente ou pensa - tão diferente de mim que me guardo dessas coisas - o que me passa uma confiança danada. E depois de tantas que eu passei, ter alguém pra confiar é quase como um suspiro forte depois de um quase afogamento.
Ele abriu mão de criar aqueles gatos que me davam tanto medo, e amor é o que sinto olhando o meu cachorrinho dormir enquanto espero ele chegar. Fiz aquelas panquecas que ele gosta pro jantar e pus uns cookies no forno...enquanto não ficam prontos olho o mar aqui da janela e um bocado de gente bonita andando pela orla, mas desde que eu aceitei aquele primeiro café, confesso que não tenho olhos pra mais ninguém.

Kamilatavares.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Montenegro.


Tenho sonhado com ele embora não o conheça...imaginei como seria sua voz, mas aquele sorriso ainda é familiar; quando perguntarem qual é o tipo físico que mais me agrada talvez agora eu saiba responder: Aqueles de sorriso bonito. Tenho essa coisas por sorrisos bonitos independente de como a pessoa seja fisicamente entende!? O que me prende são os sorrisos! O dele é de criança, é um sorriso brincalhão, bonito...com covinhas de timidez. Talvez ele tenha fugido dos meus estalos de esquizofrenia, talvez não exista de verdade nesse mundo dos reais, mas ele veio me visitar com um violão que eu lembro ter visto em outra história antiga, ainda empoeirado pelo tempo e pelo esquecimento. Nada foi dito, ventava muito...os cabelos bagunçados dele eram bonitos assim sob a luz do Sol...ele me sorria, e eu sorria de volta! Então um Opalla cruzou a rua quebrando o silêncio e desviando a minha atenção para os lados...então eu vi a praia! E naquela hora eu soube que estava em Montenegro.

Kamilatavares.

domingo, 17 de março de 2013

Platônico.

O sorriso de aparelho dele me lembra as tardes de domingo melecadas de sorvete, e ainda assim me parece adulto sorrir daquele jeito despretensioso. Afinal de contas, terno e gravata combinam com jeans rasgado e All Star, e uma pasta de couro com adesivos dos Ramones. Fiquei sentada olhando ele procurar a caneta que estava pendurada na orelha dele...e sorri daquele jeito atrapalhado que parece tanto com o meu. O fim de tarde era bonito, eu tomava meu suco de cajá e ele tentava apanhar os guardanapos que voaram; então percebeu que eu o olhava e ficou envergonhado pela cena, deu de ombros com as bochechas vermelhas, sorriu e foi embora. O barulho no copo anunciou o fim do suco, da tarde, e daquela história de amor que eu escrevi em cinco minutos. Hora de ir.

Kamilatavares

domingo, 3 de março de 2013

Paradoxo.


Lembra daqueles jogos mentais que eu falei que fazia? De vez em quando eles aumentam sabe?! É como se um milhão de pequenos cérebros funcionassem dentro de mim espalhando infinitas informações...é como se um milhão de pequenas memórias estivessem espalhadas nas pontas dos meus dedos me fazendo lembrar as mais diversas aleatoriedades toda vez que eu toco em algo diferente. Não consigo ser constante! "sou reticente...e ponto final."
Não tenho mais regularidade no sono, não tenho mais regularidade alguma! Acordo me sentindo mais velha que os meus pais e durmo me sentindo mais jovem que o meu sobrinho...estou morrendo e comemoro a vida todos os dias. Escuto as mais variadas músicas e constantemente me pego falando sozinha, reproduzindo diálogos de filmes, cenas que já vivi e outras tantas que pretendo viver enquanto me resta coragem. Imagino coisas que nunca faria, sonho com corredores de hospital, flores na minha cama...e sou feliz!
Há tempos não choro de verdade, nem me arrepio ao escutar um "Eu te amo"...há tempos não enlouqueço e aos mesmos tempos nunca me senti normal...
Planejo futuros enquanto penso em desistir de tudo pra viver sem rumo e sem perspectiva de vida. Corro maratonas inteiras dentro da minha inércia!
E quando o último trago é levado pelo vento na minha janela...fecho os olhos ao som da mesma música que coloco pra tocar toda noite e faço a minha prece...ao universo! Consigo sentir meu corpo inteiro dormente, e sorrio. Criei momentos de paz dentro do caos...aprendi a inventar minha felicidade, e sorrio com coisas bobas.
Não sei mais o que me dói, não sei mais o que me cura! Coleciono sorrisos, abraços, lembranças de crianças correndo na rua, cheiros de pessoas e cafés; fotografias que tirei com os olhos e ninguém mais além de mim consegue ver. Coleciono cenas da minha vida, e pessoas! Escuto músicas depressivas em momentos de felicidade, escuto músicas felizes nos meus momentos depressivos...e de contradições eu vivo! E sou feliz...
Maltrato os que me fazem bem...sofro pelos que me fazem mal, e os mantenho por perto. Não me entendo, não me encontro, não me perco, não me meto na minha vida, não me pergunto coisas complicadas, não me sinto pertencente...não luto...e sou feliz.


kamilatavares