quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Peço que levem tudo
levem as sujeiras, as impurezas, as poluições
levem os restos de cigarros e garrafas vazias
os guardanapos com marcas de batom e números de telefone
levem as cartas amassadas dos ex namorados
e os lenços molhados de lágrimas esquecidos nos velórios
levem as amarguras, as denventuras, desilusões
levem as chaves perdidas e cadeados fechados
levem a aliança da separação esquecida no chão
os comprovantes do consumo, as confissões dos pecados mais inconfessáveis
levem os boletins cheios de notas vermelhas, os jornais cheios de notícias passadas
levem as cinzas das fotografias queimadas...
e por fim levem os espinhos.

Só peço que me deixem, e deixem...
as pétalas das rosas vermelhas e os sorrisos derramados dos ipês amarelos
porque eu preciso pintar os meus pés...antes de ir!

Kamilatavares.

domingo, 25 de novembro de 2012

O tempo, o mundo, as voltas.


Eu não lembrei do aniversário dele! Meu Deus...só hoje eu me dei conta, parece que foi ontem e já passou tanto tempo. Nem sei se ele ainda mora aqui na minha rua, não fiz mais nenhuma visita, não perguntei nada sobre como andava a vida dele pra ninguém, nem pra mim mesma.
O mundo dá voltas...pois é! Quem diria que hoje eu ia me lembrar que depois de tanto que passou ele virou só uma sombra?! Um emaranhado de algumas lembranças que eu preciso ter pra não cometer o mesmo erro outra vez, e outras que eu guardo de alguns dias bons, do meu costume que ir ao parque e daquelas rodas de violão. Tão complicada e tão simples a vida era naquele tempo. Tudo se resolvia entre duas ou três pessoas...não tinha uma porrada de gente achando que sabe de tudo.
E lembrei daquele dia no açude...eu voltei lá esses dias sabe?! Mas dessa vez não chovia...a situação era totalmente diferente e ao mesmo tempo era quase a mesma...como se parte de mim tivesse ficado lá esperando, e outra parte tivesse iso embora atrás de coisa melhor...de viver!
Aos domingos eu matava a saudade, e na segunda a gente mal se falava...trocava um abraço amigável, sentava pra fumar um cigarro...tocar violão! Mas ninguém podia saber! Porque? Até hoje eu não entendo! Ele olhava pra mim e sussurrava "saudade de você" quando via todo mundo distraido ao redor...pra ninguém escutar, e eu respondia "eu também!"...foi quando eu comecei a aprender a falar menos, e mais baixo!
Era tão difícil convencer ele a ir comigo...eu planejava tantas coisas e não podia nem me dar ao luxo de desfrutar de um abraço em público. Porque? Até hoje eu não entendo! Talvez eu fosse muito infantil...talvez eu ainda seja! E hoje eu nem sei por onde ele anda. Me disseram que ele passou no corredor da faculdade olhando pra mim...andando devagar esperando que eu notasse...mas eu estava distraída, juro que não vi! Queria ter visto como ele estava...se havia cortado o cabelo! Eu vivia em luta com o corte de cabelo dele...
Ah ... ao mesmo tempo eu era tão teimosa...arredia...volátil. Um passo infalso e eu fazia alguma rebeldia só pra mostrar que eu mandava em mim. Quem me vê hoje...meu Deus...tão obediente! As voltas...o mundo dá voltas. Ele dizia "use branco"...e eu usava preto! Ele dizia "Deixe o cabelo crescer", eu ia lá e cortava! Porque? Até hoje eu não sei dizer!
Tantas músicas...tantas músicas que eram só nossas músicas e de mais ninguém! E hoje eu escuto como qualquer outra música que goste. As cicatrizes foram leves...ainda bem! Acho que no fim de tudo me tornei forte! Ele me ensinou muito!
Será que vai ser assim com você também? Vou te deixar cair no meu esquecimento depois de tudo? Depois de me machucar bem muito? Juro que fiz tudo diferente do que eu fazia antes...e continua dando tudo errado! Continua tudo uma bagunça! Porque? Até hoje eu não sei dizer! O jeito é esperar...quando eu cair no esquecimento outra vez talvez eu saiba responder...ou acabe esquecendo da pergunta!

Kamilatavares.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cada foto tem uma palavra
Cada amor tem uma cor
Cada pessoa tem um sorriso
e uma dor.
(Sobre "Natural", a palavra que Bia achou pro silêncio da foto)


Kamilatavares.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Kombi.



O que eu quero da vida? Uma Kombi vermelha, um GPS, grana pra abastecer, alguns CDs legais pra ir escutando pelo caminho e uma câmera pra registrar tudo.
Não me leve a mal meu amor, mas você não pode ir comigo! É, eu sei...eu não poderia fazer essa viagem ser tão fantástica, tão incrível e tão especial sem você! Mas eu preciso tentar sabe porque?! Porque se você vier comigo, vai acabar pintando a minha kombi...quem sabe de preto, azul ou amarelo...vai jogar fora os meus CDs e colocar os seus e tomar as minhas chaves e o meu volante. Se você vier comigo a viagem que eu planejei vai ser sua e não minha! Se você vier comigo vão dizer que eu, menina boba que sou, não aguentei a solidão e te acompanhei. Se você vier comigo eu não vou ter voz e nem vez.
Claro que eu planejei esses caminhos todos pra explorar com você, mas eu preciso tomar as rédeas da minha vida, preciso aprender a andar sozinha...se você ao menos me deixasse tentar!
Eu vou ficar...vou criar raízes até você pensar que eu não saio mais daqui; vou pintar a minha kombi de vermelho...separar todas as malas, todos os roteiros, tudo muito escondidinho. É, eu sei, vou mentir pra você! Me perdoe. Mas um dia você vai acordar e eu já vou ter ido embora, assim sem mais nem menos, sem bilhetes de despedida, mas deixo o seu café pronto, eu prometo! Vou trocar a água do vaso, alimentar os peixes no aquário e deixar a minha escova de dentes preferida pra você ficar pensando na possibilidade de um dia eu voltar.
Vai doer mais em mim do que em você, disso todo mundo já sabe! Eu sempre te amei mais do que você me amou...e mesmo assim sou eu quem vou! Mas te levo em cada raio de Sol amarelo que possa refletir o vermelho dos meus cabelos em diferentes lugares; te levo em cada foto que eu tirar, em cada pessoa que eu conhecer, em cada coisa diferente que eu venha a conhecer. E vou sentir sua falta quando o meu Pneu furar, quando o guarda quiser me multar, quando eu fizer comida pra dois e não tiver com quem dividir, quando o frio bater de madrugada, quando eu me embebedar e não ter você ali me carregando pra casa, quando a preguiça me bater e eu não encontrar nenhuma camiseta sua pra vestir, quando eu quiser cortar os meus cabelos, quando aquele filme me fizer chorar, quando a gasolina acabar, quando alguém me pedir uma massagem, quando eu conseguir arrotar bem alto...quando eu não tiver com quem brigar!
Quando eu finalmente voltar, talvez nem te conte todas as novidades e você nem note as minhas tatuagens novas, mas vai ser bom! Talvez eu encontre outro alguém pra me estragar...talvez aconteça tanta coisa...inclusive nada!
Mas minha vida é talvez...e assim vai ser até o dia da grande viagem chegar!


Kamilatavares

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Memórias do começo de tudo.


Naquele dia usei aquele short Jeans folgado com uma meia calça, uma camiseta e o meu velho All Star...na época era o máximo que eu poderia dar de uma versão minha "arrumada"; pelo menos os meus cabelos estavam soltos, e eu usei um pouco de maquiagem, sem batom é claro, eu odiava batom desde que o primeiro menino que eu gostei na vida disse que era horrível beijar e ficar sujo de batom. Acho que eu tinha 14 anos, e desde aquele dia eu evitava batons com todas as minhas forças.
Ele estava de chinelo, bermuda e uma camiseta branca...e aquele sorriso, aquela tranquilidade e aquela educação quase que formal demais pra situação. Um cavalheiro de bermudas, abrindo a porta do carro pra mim. Ainda lembro de certas coisas que ele fazia pra me impressionar. Colocou a minha música preferida daquela banda pra tocar no carro, e disse que era a música preferida dele também. Imagina só, dentre tantas músicas...e aquela nem era a mais famosa!
Me contou aquelas histórias que hoje eu sei de cor, me provou que eu estava errada sobre ele, olhou curioso quando aquele cara me ligou e eu atendi toda nervosa, me fez rir, me mostrou seus DVD's, sua estante de livros e todas as coisas que guardava em prateleiras.
No começo eu confesso, ele foi pretexto pra que eu pudesse esquecer de outras coisas, e olha só o que me aconteceu! Agora quem me faz esquecer dele?
Hoje em dia me vejo muito diferente de quem eu fui naquele dia, com os pés doendo desse salto, as pernas frias onde o vestido não cobre, tirando o esmalte das unhas de nervosismo, procurando batons dentro da bolsa, eu nem usava bolsa! Ia colocando tudo por dentro dos bolsos mesmo, perdendo meus celulares por ai! Hoje eu converso com as pessoas olhando para os lados esperando ele chegar...e quando estou com ele, esqueço de olhar pros lados procurando alguém que me tire dalí, eu sei que não posso ficar...mas fico.
Hoje em dia eu ando muito mais calada, mais sumida, mais distraída...assistindo mais filmes, me prendendo mais nesse mundo meu cheio de coisas. E fico alegre até quase explodir...e fico triste até quase morrer...e fico paranóica com medo de tudo...com medo de mim...
Há quem diga que eu cresci, emagrecí, amadurecí...há quem diga que eu sou a mesma, sofrendo por um personagem diferente, usando roupas diferentes...mas presa na mesma história disfarçada com outro cenário...há quem diga que eu vou ser sempre assim e há quem diga que um dia eu saio dessa! Vou prestando atenção, enquanto perco a memória pra tantas coisas importantes, e vou gastando o pouco que tenho dela lembrando de banalidades como estas.
Me disseram que no futuro, depois de passar por mais um bocado de sofrimento, a gente vai acabar casando (me disseram isso algumas vezes antes, nunca acredito), mas quando os quatro anos juntos se passarem, e eu for repetir a cena de "Closer" fazendo joguinhos de perguntas sobre a nossa relação, não importa o quão difíceis as perguntas dele sejam, eu vou acertar todas! E se tudo der errado, outro menino de bermuda e camiseta vai aparecer, com outro sorriso bonito, pra me fazer esquecer de tudo (ou quase tudo) isso.

Kamilatavares.

domingo, 18 de novembro de 2012

As flores.


Plantei aquele Dente-de-leão pra me lembrar dos conceitos e princípios que eu aprendi com o passar dos meus poucos anos de vida, é tão bonita a dança que eles fazem todos juntos do meu jardim, com seus pequenos pedacinhos brancos e amarelos voando pela rua...sabe-se lá onde eles vão parar. É disso que eu tento me lembrar toda manhã...somos pequenos pedacinhos de um Dente-de-leão, voando por ai sem rumo...sem direção..."sem lenço, sem documento num Sol de quase dezembro"...
Nascemos todos juntos, unidos ao mesmo núcleo protetor...e com o tempo cada um vai se soltando...voando pra longe, pra se encontrar com fragmentos de outros Dentes-de-leão, ou quem sabe orquídeas, violetas, margaridas, girassóis...
Os vasinhos de violeta que eu coloquei na janela morreram todos, não suportaram a chuva lá fora, nem meus lamentos aqui dentro. Tentei prendê-las, tentei prender-te, tentei prender-me...então as folhas secaram e elas morreram sem nunca saber o que era estar fora daquele pequeno vaso.
Quando eu deixei você ir plantei meus Dentes-de-leão por todo o jardim, e adivinha? Eles se adaptam a qualquer clima! Então todo dia eu preparo o meu café e me sento no jardim, pra olhar minhas flores dançarem ao vento...indo embora um pouquinho a cada dia, mas nunca me deixando completamente. Liberdade! Acho que é isso...e eu as amo...minhas pequenas flores. E elas espalham meu amor pelos ventos o ano inteiro...me trazendo beija-flores em recompensa.


kamilatavares.

sábado, 10 de novembro de 2012

O vaso


Nunca consegui explicar minha razão por ter ficado sempre, por ter perdoado sempre, por não ter dado ouvidos aos amigos, ter abandonado os psicólogos, largado os remédios... mas hoje eu sei.
Peguei o espaço vazio em mim, aquele que me perturbava desde pequena, pra carregar um pedaço do coração dele, que é tão pesado que não dava pra ele levar sozinho...é...eu sei...ninguém entende porque hoje em dia tudo é troca, tudo é interesse, tudo tem uma ida e uma volta...e eu não ganho absolutamente nada com isso aos olhos alheios. Pra quem vê de fora eu só perco! Talvez seja verdade, mas tem um nó na minha garganta que não me deixa pensar em mais nada além do quão grande o amor pode ser, e como ele pode se manifestar de diferentes formas.
Você daria o seu coração pra outra pessoa carregar por você? Entregaria um pedaço da sua vida de olhos fechados sem a mínima dívuda de estar fazendo a coisa certa? Confiaria em alguém pra cuidar do seu bem mais precioso? E se não fosse bem cuidado? Consegue perceber a impotência que isso causa?
É muita responsabilidade, carregar duas vidas assim tão complicadas juntas, como se enfiassem um pedaço de outra alma dentro da minha...é pesado. Passei a noite agonizando, talvez fosse uma cirurgia invisível. Abafei meus gritos, derramei meu choro até precisar de um novo travesseiro, me enrolei em todos os lençóis pra me livrar do frio...mas acordei viva!
De agora em diante preciso ser duas vezes forte...não cabe mais raiva em mim, não pode! Me livrei de tudo quanto era coisa ruim e negativa só pra caber o amor dele, vou ter que cuidar de mim pra não deixar morrer o amor dele...vou virar amor também, pra inspirar o amor dele e esquentar meu coração, pra não esfriar o amor dele.
Sou tão pequena pra tanta coisa...mas quero fazer o certo mais uma vez! Minha mãe uma vez disse que todo mundo tinha uma missão no mundo...cresci sabendo que certos tipos de amor não foram feitos pra mim...mas talvez seja por isso...talvez eu seja feita pra guardar isso...e livrar um pouco do peso do outro! Se eu não for? Bem...pelo menos um dia eu vou poder dizer que já fui um vasinho de amor!


Kamilatavares.

sábado, 3 de novembro de 2012

"Um café, por favor!"



Atravessei a cidade numa tarde estranhamente fria, pensei milhões de coisas enquanto o ônibus dava voltas pela cidade barulhenta, e até tirei fotos de umas flores que vi nascer num canteiro de concreto.
Decidi fazer algo de novo, dentro das poucas possibilidades daqui, mas usualmente quando eu saio só alguma coisa de legal acontece, não sei se é porque nunca tenho expectativas, ou se é porque sair só seja algo realmente lucrativo.
Por já ter ido em quase todos os lugares daqui, decidi parar em um café naqela rua escondida do outro lado da cidade, quase nunca passo por ali, seria algo interessante.
Quem me conhece sabe que eu não bebo café. Meu pai toma tantas xícaras por dia que eu meio que abusei por osmose, e o gosto nunca me atraiu, embora seja uma bebida tão amada por todos. Então me desafiei a tomar um café...o lugar era charmoso e agradável, então peguei o cardápio e sem me preocupar muito pedi o café com o nome mais complicado possível, pra nem correr o risco de saber o que tinha ali, nada poderia ser pior que o próprio café.
Acho que é isso que as pessoas solitárias fazem...se sentam em cafés no fim da tarde com seus fones de ouvido e livros, buscando alguma paz quem sabe...então lembrei que tinha um livro na bolsa, ainda estava na metade da leitura.
Nessas horas a gente espera aquela cena de filme, onde alguém te interrompe pra comentar o quão bom aquele livro é, perguntar o que você está ouvindo, trocar comentários sobre o tempo, os filmes, as bandas...e no final ela é o grande amor da sua vida, bem ali, vestindo jeans e camiseta e te sorrindo um sorriso tímido.
O café era estranhamente cremoso, acho que tinha caramelo também...esperei uns 10 minutos pra terminar de tomar porque o primeiro gole quase queimou a minha língua. Olhei a mesa do outro lado e um grupo de 4 meninas tiravam fotos dos seus respectivos cafés. Engraçado a necessidade que a gente tem de que todos saibam até o que nós bebemos. E mais engraçado ainda o paradoxo de como essas mesmas pessoas odeam que outros se metam em suas vidas, que já são tão expostas por eles mesmos...e fiquei ali pensando antes de voltar pra minha leitura.
Pedi uma torta de limão, uma das minhas preferidas...o café nem era tão ruim assim, mas queria tirar o gosto e limão era o candidato perfeito pra isso...alguma música do Pink Floyd começou a tocar...um conhecido entrou no café, pediu alguma coisa e foi embora...não dei muito espaço pra conversa além do "boa tarde, tudo bem?"...e fora isso absolutamente nada aconteceu, exceto por um menino que não parava de olhar a capa do meu livro, mas não teve coragem de interromper a minha concentração, e eu acho que também não permiti que ele se sentisse confortavel para tal.
Talvez a vida seja uma tarde em um café, sem emoção. Ou talvez eu seja só uma observadora esperando virar um personagem com alguma visibilidade. Só sei que eu vou voltar pra experimentar os outros cafés, e só depois disso eu vou dizer se é realmente tão ruim assim...talvez eu até goste de algum café do cardápio e deixe o menino me interromper e perguntar alguma coisa sobre aquele livro. E eu conte pra ele o meu estranho habito de sentar cafés só pela torta de limão.