domingo, 23 de março de 2014

Um poema de amor bem amado para Guilherme.

Tu me fazes - oh meu bem - 
bem muita raiva
tipo bem muitona
e me abandona e me deixa
e eu devia ter ódio de tu e te dar umas tapas e te abandonar

mas eu não te abandono
porque eu sou besta
e tu disse uma vez que eu era compreensiva
e porque eu te amo
e porque tu tens um bacon gordinho
que eu gosto de apertar
e te apertar é bão
mais bão que pãodjiqueiju com café de mamãe
e eu gosto pronto

e foda-se a rima
me ligue-me
que eu te ligo-te
e nós nos ligamo-nos
e fim.



Kamilatavares.


segunda-feira, 17 de março de 2014

60 minutos.

Eu acho que antes a minha fome por respostas me embaçou mais ainda a visão e me impediu de prestar atenção em outras coisas que fossem também importantes...ou distorceu muita coisa que eu deveria ter visto de outra forma, e eu passei os últimos meses revisando todos os capítulos, mas sempre e busca de algo que eliminasse os meus porquês, os meus questionamentos, as minhas interrogações...

Eu confesso a minha raiva, o meu grito de desespero, o meu choro e o tremer das minhas mãos...eu confesso o olhar desolado através da janela e o soco abafado no travesseiro...eu confesso o nó na garganta e o meu desequilíbrio...eu confesso os meus surtos e mudanças bruscas de humor...eu confesso, fiz cena.

Acho que os dias enclausurada me trouxeram não só momentos profundamente depressivos como também algumas horas de boa reflexão, e por fim a gente acaba se acalmando e o conformismo com seja lá o que for se torna inevitável...começamos puramente raiva e terminamos entregues ao "que seja...agora tanto faz". Mas eu não acredito no tanto faz.

Me limitei a não esperar respostas, elas de nada me servem a não ser para me tirarem os nervos e acabarem com o meu frágil equilíbrio, e me conformei em não mais perguntar, não mais pedir, não mais procurar...mas dedico pequenas parcelas do meu dia para os pensamentos que dizem ao seu respeito, limitando-os apenas aos pensamentos positivos e recordações reconfortantes. Escrevo várias cartas, monto repertórios de músicas e serenatas, planejo supresas que eu sei que você vai gostar e faço listas de presentes.

Todo dia eu lhe dedico uma hora...ou mais, ou menos.

A sua hora é com certeza a mais bonita do dia, é como se eu me enchesse de olhares poétios pra poder te enviar energias boas...tudo fica mais bonito, até os ruídos dos carros somem. Sua hora não é regular, e pode ser dividida em pequenas parcelas de cinco ou dez minutos...

Quando eu vejo o Sol nascer e lhe digo bom dia bem na hora em que você acorda preguiçoso pra ir trabalhar - esperando que você coma bem no café da manhã e preste atenção no trânsito.

Quando eu faço pequenas caminhadas e vejo alguma árvore bonita.

Quando eu pego o violão e toco uma música que você gosta.

Quando eu escrevo.

Quando eu assisto um filme bom e quero que você também assista.

Quando eu escolho a música do dia.

Quando eu leio algum trecho sensacional de um livro qualquer.

Quando o tempo esfria...quando chove.

Quando eu canto ou aprendo a tocar algum instrumento novo.

Quando eu escolho alguma nova coisa preferida.

Quando eu choro...e quando eu sorrio.

Assim a sua hora passa todo dia, e no dia seguinte outra hora começa...e foi assim que eu encontrei a minha versão do que seria meditar - pensar apenas em coisas belas, enviar boas energias, me sentir parte do mundo...da natureza...me sentir um Ipê amarelo jogando flores douradas na calçada. A natureza não precisa de respostas...ela somente é! Você não está sempre lá pelas árvores...mas elas estão sempre lá pra você!

Outro dia eu sonhei que você criava coragem e fugia de casa num Fusca...e vinha me buscar! Foi legal.


Kamilatavares.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Antônio e o ralador de cenouras.


Eu gosto de cenouras raladas, mas sou desastrada e sempre rasgava os dedos quando tentava ralar o finalzinho da cenoura, mas achava um desperdício jogar o resto da cenoura no lixo. Pensei em comprar um coelho pra me fazer companhia e comer os pedacinhos da minha cenoura - assim eu não me cortaria no ralador e não jogaria mais cenouras no lixo - Ou quem sabe desistir das cenouras e colocar outras coisas na minha salada, que já tinha alface, tomates e outras coisas que eu encontrava pela geladeira...quem sabe mais ervilhas?! Talvez...
Antônio chegou em casa e percebeu que eu andava meio triste...quando me perguntou eu contei pra ele o dilema da cenoura, mas acontece que se ele não podia ter um gato (porque eu não gosto de gatos), eu não poderia ter um coelho - era uma simples decisão democrática...pensou em comprar um cachorro (nós dois gostamos de cachorros), mas o cachorro não comeria as cenouras...e agora?
Olhei as minhas mãos alaranjadas e pensei: "Que tal um ralador elétrico?" uma geringonça elétrica dessas que vendem hoje em dia que rala cenouras, corta cebolas e tomates e tudo que você imaginar.

- Antônio, eu quero um ralador elétrico!
- Mas e o cachorro? 
- Também quero o cachorro, mas primeiro o ralador elétrico! Só assim eu não corto os meus dedos, não jogo nenhum pedaço da cenoura fora e também não precisarei mais cortar cebolas! Está decidido o meu presente de aniversário! Um ralador elétrico!
- Não vou lhe dar um ralador elétrico de presente de aniversário! Seria ofensivo!
- Mas porque ofensivo, Antônio? Se eu quero o maldito ralador...ofensivo seria se eu não o ganhasse!
- O ralador é um presente para a casa, não para você! Lhe darei outra coisa, e depois do seu aniversário eu lhe compro o ralador.

Antônio tinha pensamentos diferentes, entende? A mãe dele odiava os aventais que o seu pai lhe dava todo aniversário...os panos de prato, as panelas novas...de forma que cresceu com tais pensamentos, sua mãe sempre lhe repetia que tais presentes eram ofensivos - mas eu só queria o meu maldito ralador! Não seria uma ofensa para mim - afinal de contas eu precisava mais do ralador do que de um par de sapatos novos.

- Você gosta de cenouras raladas, Antônio?
- Detesto! Você sabe disso!
- Então só quem come cenouras raladas em casa sou eu...logo o ralador de cenouras será meu! Quando eu precisar de sapatos novos lhe pedirei sapatos novos...quando eu precisar de um vestido,lhe pedirei um vestido...mas hoje eu preciso de um ralador elétrico!
- Tu sempre me derruba no argumento, hein mulher?! 
- Faremos o seguinte...me dê o ralador que eu lhe dou uma chaleira!
- Hã?
- Eu por acaso bebo chá? - Disse com certo tom de arrogância...ora, eu precisava provocar o Antônio de alguma forma.
- Não!
- Quem faz chá nessa casa toda noite?
- Eu!
- Então lhe comprarei uma chaleira nova...temos um acordo?
- Ok, temos um acordo!
- ok então!

Dei um beijo nele, peguei o meu carro e fui procurar sua chaleira, ele por sua vez foi comprar o meu ralador elétrico...veja só que coisa boba, não é mesmo?! Quando eu conheci o Antônio o drama dele se espantou com a minha praticidade e o seu metodismo tratou de cuidar do meu desleixo...ele assiste novela escondido, sabia?! Acho uma graça...

Quando ele voltou pra casa, trouxe o meu ralador e um livro novo pra não lhe pesar a consciência...eu estava inaugurando a chaleira preparando um chá de qualquer coisa pra ele...nunca soube fazer chá - mas diz ele que ficou bom! No dia seguinte o nosso cachorro chegou, e eu comi a melhor salada do mundo na hora do almoço, que foi melhor que as outras pelo simples fato de eu não ter que me preocupar de achar nenhum pedaço do meu dedo dentro do prato. 
"Uma maravilha essa geringonça eletrônica, não é mesmo Antônio?"
E as minhas mãos nunca mais foram cheias de cortes e cor de laranja.

Histórias aleatórias que se contam aos domingos.

Kamilatavares. Do livro que eu nunca publiquei, porque não existe nenhum livro...nem cachorro, nem coelho, nem Antônio, nem cenouras. 2014.

Mas eu gosto de cenouras...

quarta-feira, 5 de março de 2014

Nós três, nós quarto, nós cinco, nós seis!



A gente tocava cover pra se distrair e o bar tinha cheiro de cigarro e mofo
A gente bebia pra se divertir e não se importar com a caixa estourada e o choque no microfone
A gente saía pra não voltar, voltava pra não sair, dormia pra não sonhar e sonhava sem dormir
A gente não fazia a mínima ideia, mas era feliz...era sim!

Depois tudo é composição, produção, gravação, enrolação
Depois tudo é briga e papo sério
Depois tudo é ressaca, tudo é trabalho
Depois chega a responsa, a dor nas costas e a idade
Depois tudo é saudade.

Que nem passar o ano preso na Quarta-feira de cinzas
Dá uma sede, né?!
Sede de água, sede de ontem, sede de carnaval

Que nem encontrar o primeiro namoradinho na fila do supermercado
com um filho no braço.
Estranho, né?!
Que nem um nó na garganta, que nem se engasgar com o suco de cajá quando não tem ninguém em casa
A gente tenta tossir o que incomoda pra sobreviver...mas não tem quem lhe dê um tapa nas costas.

Pois é tipo isso entendes?

Kamilatavares.