quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Café poético.


Queimei a língua, mais uma vez! Vai demorar até eu aprender a beber café com a mesma classe que o meu pai, mas vou tentando! Minhas cordas vocais esquentaram e foi como um alívio que me encheu de vontade de cantar, mas não podia...pelo menos não ali! E naquele café com pouca luz, e flores amarelas na mesa - todas de plástico - tentando ler um livro ao som de Milton Nascimento vi as pessoas me olharem checando o meu vestido, os meus sapatos e se perguntando porque eu estaria ali sozinha!
A solidão intriga os outros...assusta de fato; mas pra mim ela é uma companheira e tanto, pra mim é confortável e tão belo quanto a lua que parecia gigante vista ali através do vidro.
Lembrei daquele amigo escritor e de todas as conversas que se desenrolariam facilmente num ambiente como aquele. Senti saudades! Tentei ligar mas lembrei que não tinha o número dele na agenda e na mesma hora o meu telefone tocou, então de sozinha fui promovida a alguém esperando uma amiga, que apesar de não tomar café, iria dar uma passada pra me ver e colocar os papos em dia.
Aquela é sem dúvida a minha rua preferida da cidade, lá eu não tenho pressa, lá o tempo não passa, lá toda hora é bonita de se olhar. As pessoas correm com seus cachorros, meninos passam de bicicleta, homens de terno pegam seus cafés e eu posso ver o Sol fazendo desenhos na água. O novo museu com seus vidros espelhados reflete as mais diferentes cores; e quando anoitece e começa a esfriar a lua aparece - ali naquela rua - maior do que em qualquer outro ponto da cidade!
Minhas mãos tremiam pelo excesso de café enquanto eu lia o meu livro e sentia as pessoas me olhando, quatro capítulos depois resolvi me dedicar ao Script da peça em que vou atuar - um musical pra ser exata - e dividia meu tempo entre goles, leituras e pausas para olhar a rua. Então ela chegou, e tudo voltou ao normal...deixei de ser a menina sozinha sentada num café, todas as mesas se voltaram para sí. Porque esperar uma amiga é algo trivial, sair sozinha e sem planos não, é curioso, incomum, peculiar, algo digno de mim.
- A conta, por favor!


Kamilatavares.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Dez anos depois...


Diário de Pandora, 02/01/2023

"And then one day you find, ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun"  (Time - Pink Floyd)

        Eu sei que não ando seguindo as recomendações médicas de escrever tudo que se passa no meu dia, e até acho isso meio ridículo! Nunca tive paciência pra diários quando adolescente, porque teria agora? Mas a médica lá disse que me ajudaria com os problemas de memória, e mesmo desobedecendo as ordens dela de escrever diariamente eu creio que os últimos dias devem ser lembrados em seus mínimos detalhes, assim como eu me lembro de como tudo aconteceu dez exatos anos atrás; por sorte não perdi aquelas memórias, e por ajuda médica pretendo não perder estas. Embora eu ache um exagero, visto que meus lapsos são bobos a meu ver...eu não preciso lembrar o que almocei, ou se almocei uai. Mas como não quero me tornar um Benjamin Evans (sim, o daquele Best Seller, que por coincidência carrega o meu nome na dedicatória, e que eu li antes de todos vocês) é melhor me cuidar desde cedo.
Indo direto ao ponto, dez anos se passaram e aconteceu justamente o que a gente previa (claro que nem tudo acontece como planejado mas...) caso um dia a gente fosse em direções opostas e por acaso houvesse um reencontro...
 Eu estava (pra variar) sozinha aqui no meu apartamento (como eu havia previsto dez anos atrás) cuidando do meu cachorro e terminando a limpeza de um dos aquários, e planejava passar o ano novo com uma caixa de cervejas, o Jack Daniels (meu cachorro) e meus mais que preciosos DVD's de Star Wars; então recebi um convite de um amigo, que iria passar o ano novo no sítio de outro amigo, em um churrasco na cidade vizinha, e não queria me "deixar sozinha deprimida passando o ano novo com o meu cachorro" embora eu estivesse muito feliz e animada, pois meus sabres de luz haviam chegado no dia anterior. Mesmo assim, peguei aquele vestido amarelo que eu tinha mandado fazer igual ao da Luna Lovegood (porque ela diz que amarelo dá sorte, e todo ano eu cumpria minhas tradições de fim de ano com um vestido de cor diferente, feito inspirado em algum filme, e uma maratona diferente...ano passado a cor foi vermelho e a maratona foi o Batman), minha caixa de cervejas e fui com ele! E claro...fiz uma playlist pra escutar durante a viagem.
Chegando lá, passei um bom tempo olhando os ipês de todas as cores e o jardim super bem cuidado daquele sítio; na garagem um opala amarelo...olhei pra ele e sorri nostálgica; andei mais um pouco, algumas pessoas estavam em volta da churrasqueira, com suas cervejas e conversas sobre política e economia; do outro lado outras pessoas jogavam poker aos cuidados de suas respectivas esposas que lhes serviam drinks...sorri nostalgica mais uma vez. Então um som familiar veio lá de dentro da casa: PINK FLOYD! Meu Deus não pode ser...tanta familiaridade em um dia só...faz tanto tempo que eu não vivo essas coisas todas! Mas a cidade é diferente, o ano é diferente, os rostos são todos diferentes! Peguei uma cerveja e perguntei ao meu amigo qual daqueles era o anfitrião, e ele me disse que não era nenhum deles...espera...é aquele ali saindo da casa! MEU DEUS, É ELE!
Olhei eles se cumprimentarem e esperei que ele não me reconhecesse, quando Ricardo - o meu amigo - se virou para me apresentar ao anfitrião, dei um passo para a luz e vi seus olhos saltarem de surpresa!
- Não-pode-ser! Bonitona?
Sorri o meu sorriso mais bem sorrido e vi ele dar três passos rápidos pra me abraçar pelo que eu julgo terem sido umas três horas! Ele ainda tem o mesmo cheiro, os cabelos ainda não ficaram grisalhos e - graças ao meu bom Deus - ele continua bem barbeado. E naquele abraço eu vi anos se passarem, e na minha garganta se acumularam todas as coisas que não pude dizer depois que ele foi embora e eu fui também! Coisas bobas, do dia-a-dia...frases de filmes, citações de livros e trechos de músicas, uma nova receita com bacon, a falta que ele fez quando eu chorava de dor toda vez que ia fazer uma nova tatuagem, todas as risadas que eu tive que dar sozinha quando tentava explicar pras pessoas que o amor não tinha uma só cor e elas não entendiam...e ele não estava lá pra rir delas comigo. Eu não tinha grandes coisas a dizer, grandes filosofias sobre "oh meu Deus como nós isso e aquilo e como eu gosto de você e como você fez falta" não... eu lamentava pelos pequenos momentos, pelas idiotices que cada um falava pro outro rir, lamentava por não ter com quem comentar o jogo do Domingo e pegar uma briga de mentirinha... e não tinha com quem reclamar quando acordava no natal e via que o papai noel - mais um ano - me deixou sem o meu boneco do Woody.
Ele mudou um tanto também! Fez outras tatuagens, usa lentes de contato agora...engordou de tanto bacon com cerveja, mas não foi muito...exatamente o tanto que eu achei que ele fosse engordar; e - assim como eu - também mora só! Rodeado de suas árvores amarelas, andando no seu carro amarelo e com a sua prateleira de miniaturas de dinossauros, e o seu cachorro! Dez anos e eu ainda compro sabres de luz, e ele miniaturas de dinossauros. Nunca vamos crescer!! E isso é tão bom...
Ricardo ficou sem entender como poderia ser possível que eu o conhecesse, então nos sentamos e começamos a contar-lhe toda a história, e a cada episódio relembrado mais risadas eram derramadas na mesa e mais curioso por novas histórias o Ricardo ficava.
Contamos da banda e ele não acreditou que um dia eu subi num palco pra cantar Led Zeppelin, e que tinha gravado um EP nunca lançado, já que ele só me via nos palcos atuando, e eu só tocava violão em pequenas reuniões de amigos. Ele riu dos nossos apelidos - bonitão e bonitona - e de como a minha mãe se derretia de amores pelo bonitão...e todas as vezes que a gente bebeu até cair, e a forma com que a cidade inteira olhava pra gente e pensava coisas. Por vezes ele segurava os meus seios em público, só pra despertar curiosidades, eu sentia cócegas e ria, mandava ele parar mas achava tão engraçado quanto ele, e fazia piadas infames...e todo mundo pensava que a gente fazia loucuras na cama! E a gente realmente fazia...a loucura de deitar do lado do seu melhor amigo e esperar o sono chegar, sem preocupação nenhuma...quer loucura maior que essa? Existe loucura maior que entregar sua dedicação a um amigo de verdade? Fizemos loucuras sim! Cometi a loucura de chorar na frente dele...por tantas vezes! Loucuras no sofá, assistindo filmes com muita pipoca e cerveja, a loucura de deixar de prestar atenção no Poderoso Chefão pra fazer uma massagem nele...a loucura de brigar, parar de se falar, voltar a se falar...loucuras mil!
E começamos a lembrar da convivência...das viagens...de quando os pais dele viajavam e eu ia dormir lá só pra fazer o jantar dele, senão ele comia qualquer congelado daqueles que você coloca cinco minutos no microondas e tá pronto! Então a gente jantava, eu fazia os famosos cookies, a gente tocava violão, assistia vídeos engraçados, eu fazia massagem nele, tomava um banho, me arrumava, escolhia uma roupa bem bonita pra ele vestir e sair por aí comigo pra tomar cerveja e conversar com os amigos, na volta a gente apagava de bêbado, de sono, de cansaço...eu acordava...preparava o café...conversava e depois ia pra minha casa...pra depois voltar outra vez. E falei de como ele perdeu a paciência tentando me ensinar a jogar poker, e da briga que a gente teve quando eu tentei dirigir o carro dele. E as brigas...meu Deus como a gente brigava por nada, e ele ficava todo estranho por uns tempos...e eu toda distante...depois cada um que não aguentasse mais e fosse falar com o outro pedindo desculpas.
E os domingos tocando violão na grama do parque, com todas aquelas comidas...era o único jeito de me fazer acordar de sete da manhã aos domingos...e mil outras coisas foram lembradas...até chegar a hora da contagem regressiva.
10 - 9 - 8 - 7 - 6 - 5 - 4 - 3 - 2 - 1 - FELIZ ANO NOVO!!!
Abracei algumas pessoas, olhei os fogos, escutei mais uma porrada de músicas e cada um por sua vez foi deixando a festa, até não sobrar ninguém exceto eu, ele e Ricardo, que estava apagado no sofá! Ele me olhou daquele jeito de sempre...eu já sabia o que fazer! Fui na cozinha e comecei a separar as coisas enquanto ele recolhia umas garrafas que estavam espalhadas, sempre muito bem organizado! Então o cheiro de chocolate fez ele correr pra cozinha. Depois de comer os cookies eu fui na varanda e encontrei uma rede, vermelha desta vez, minha cor preferida! Me deitei e ele se juntou a mim...fiquei ali abraçada com ele e dessa vez a conversa foi em silêncio, como a gente costumava fazer...eu esperei ele falar...ele sempre é o primeiro...eu já sabia a frase...então ele falou: "Diz mais aí, fia!"
Pois é...o relógio corre, as folhas caem do calendário, as pessoas se mudam, conseguem empregos, maridos, esposas, animais de estimação...os cabelos brancos aparecem, as rugas, as novas preocupações...mas pra certas coisas, aquelas pequenas coisas, tão pequenas e tão de verdade, tão invisíveis mas tão palpáveis, tão frágeis mas tão imutáveis que se tornam fortes...pra essas coisas...o tempo não passa. E naquela hora eu tive certeza, naquela hora eu soube de tudo. Uma vez eu li num livro...e já é uma citação tão antiga...tão batida...tão clichê...mas não poderia caber mais... é fato que "tu te tornas eternamente responsavel por aquilo que cativas" e eu me senti eternamente responsável pelo meu pequeno príncipe.
Então ele elogiou a cor do meu vestido, a tatuagem do meu braço - que havia sido ideia dele - e finalmente dormiu...sorrindo.

Kamilatavares.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

The dream


- you're not the boy who doesn't love...you're the boy who love too much and that's why you can't support a half-love, that's why you can't live with something incomplete. And in a world full of incomplete people...well...you end up feeling like this.
- Take it all, or nothing...you're right... but how do you know that?
- I'm just like you.
- Yeah, and i know you try to hide this.
- Like crazy, but it doesn't matter here...this is only a dream!
- What? How can you be so sure?
- 'Cause you're crying, and i'm not!

Kamilatavares.