quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Café com pão de queijo.

Eu conheci o Luiz em uma festa aleatória que eu nem queria ter ido pra começo de conversa. Era um Sábado preguiçoso e eu fui beber o luto pela morte de um familiar; não era um dia que eu pudesse chamar de bom ou produtivo. Tentei ir ao banheiro e fui barrada na fila por um cara alto vestindo uma camisa do Motorhead que me disse que o bar estava muito cheio e a fila muito grande; teimei com ele e resolvi esperar assim mesmo, quando saí ele estava me esperando pra dizer que eu não pensasse mal dele, me garantindo que não era um cara chato e me dizendo que ele era novo na cidade e não conhecia quase ninguém.
Pelo sotaque eu soube na hora que ele era mineiro, torcedor do galo e apreciador de cerveja, rock n' roll e pão de queijo com café - estava certa. E ali mesmo começamos a conversar sobre as mais variadas coisas...coisas que nem me interessavam numa conversa de bar, mas conversei do mesmo jeito só pra ouvir a voz dele, só por gostar de sotaque mineiro, só por não querer sentar na calçada e beber sozinha. E ali mesmo ele pediu o meu telefone e falou da cadelinha que ele adotou pra não se sentir tão só, e depois de duas horas de conversas aleatórias, ali mesmo ele me beijou e depois foi embora.
Sabe aqueles filmes americanos que a gente assiste na Sessão da Tarde só pra se iludir que existe romantismo no mundo? Eu achava que não existia essa coisa de ser convidada para um encontro, até o dia seguinte quando o meu telefone tocou e o Luiz estava do outro lado da linha me chamando para ir ao cinema com ele. Veio me buscar em casa, vimos o filme, tomamos chopp e fomos comer sushi; e nesse dia eu descobri que dividimos o mesmo restaurante preferido, o mesmo vício por cinema e que ele também sabe todas as falas de Closer decoradas (nessa hora eu confesso que quis me casar com ele ali mesmo). De alguma forma que eu não sei explicar eu me senti em casa perto dele, como se eu morasse dentro de um filme guardado na minha prateleira de DVD's e que a qualquer momento eu podia voltar ali e reviver tudo.
O Luiz foi embora depois disso, foi embora pra sempre e nunca mais falou comigo - os créditos subiram, a trilha sonora tocou e eu não consegui rebobinar a fita de jeito nenhum, mas, de vez em quando, assim quando eu me deito antes de dormir e penso em como eu tenho vivido feito um robô sem sentimentos, eu fecho os olhos e lembro do Luiz e seu sotaque bonito reproduzindo as falas de closer entre um gole e outro, e me lembro em como é bom ter uma saudade guardada pra sentir de vez em quando, e como é bom pensar que um dia você pode encontrar alguém assim na vida, mas alguém que fique, filme a sequência, lance a trilogia, a versão estendida, os extras e o making of.
Depois disso eu voltei a ser só, mas não me lamento não sabe?! Escuto uma música lenta enquanto sinto o frio entrando pela janela do meu quarto ou quando saio por aí pra esperar que algo de bom me aconteça...e eu sei que vai.


Kamilatavares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário