terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Plataforma 17

Eu estava no carro e chovia...chegamos em casa e eu sentia que ele iria iniciar mais uma conversa pra justificar a distância - e assim o fez. Naquele dia ele me confessou que estava namorando...há meses! Naquele dia eu tive a primeira grande crise de choro na frente de alguém que eu havia acabado de perder...ele me consolou - jurei nunca mais escrever sobre ele, jurei nunca mais chorar na frente dele, jurei nunca mais chorar pelas minhas tragédias reais na frente de ninguém - e assim o fiz...ou quase.
Eu estava sentada na minha cama segurando o computador e processando a conversa que eu havia tido. Naquele dia ele me disse muitas coisas, inclusive que me amava...inclusive que queria ficar só...e eu que havia passado quase um ano chorando apenas com os meus filmes, ou ali meio que escondidinho antes de dormir, sem ninguém escutar - caí em prantos e tive a fraqueza de ligar pra minha melhor amiga, que ouviu os meus soluços e dividiu parte do desespero comigo.
Eu estava longe de casa, sozinha fazendo coisas banais...achei uma carta que não deveria ler - mas li. E essa foi a maior crise de choro da minha vida...e liguei pra um amigo que me fez jurar que eu nunca mais olharia na cara dele que tanto me fez sofrer e buscaria a minha paz...dois dias depois eu o vi - e estava na varanda quando começamos a conversar...não me lembro de muita coisa por causa do álcool...mas me senti naquele dia do carro, chorando por um amor que já morreu ou nem mesmo existiu e sendo consolada por quem causou o furacão.
Eu estava na varanda e ouvi ele dizer que tudo ia dar certo...eu estava na varanda e senti sua mão enxugar minhas lágrimas...eu estava na varanda e fiquei só, e na varanda eu prometi não chorar mais por ele.
Voltei pra casa escutando o silêncio do adeus que não foi dito e agradecendo pelos amigos que fiz no meio do caminho...esqueci de tirar todas as fotos...esqueci de (quase) todos os abraços de despedida, esqueci de escrever no diário de bordo, esqueci meu shampoo, minhas sandálias roxas, um prendedor de cabelo e outros tantos pedaços de mim.
Quando uma guerra acaba os rastros dela ficam pra trás...nunca é o fim de fato porque leva tempo pra reconstruir as cidades, refazer tudo, procurar as famílias que se perderam, enterrar os entes queridos e enxugar as lágrimas e as manchas de sangue que ficam nos que sobreviveram...e vivemos guerras internas contra nós mesmos...morremos e sobrevivemos, prometemos e descumprimos, choramos e nos reconstruímos ao longo dos dias...nos escondemos em trincheiras e depois saímos em desfile cantando vitória, mas na vida não se vence, só se vive...porque vencer significa a derrota de alguém, mas na vida sozinho ninguém comemora...e naquele dia eu assinei o meu tratado de paz!


Kamilatavares.

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