segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Claquete.

Sempre gostei de coisas muito específicas.
Específicas e aleatórias.
Específicas aleatórias e especiais.
Específicas, aleatórias, especiais e mágicas.

Talvez seja uma forma poetizada de dizer que eu tenho algum transtorno psicológico; ora veja bem...eu preciso estudar, passar um tempo com os meus pais, dar atenção aos meus amigos, andar na rua por acaso, ensaiar com a minha banda, estudar mais...com tudo isso quem tem tempo pra enlouquecer? Se eu pudesse enlouquecer sozinha seria bom...mas quando a gente enlouquece acaba carregando todo mundo que você conhece junto com você, e só de pensar em dar satisfações do meu estado mental pra cada um que me pergunte como eu estou...prefiro fingir minha lucidez até a morte.

Tem gente que cai na bebedeira - Eu assisto filmes.
Tem gente que chora - Eu assisto filmes.
Tem gente que toma remédio controlado - Eu assisto filmes.
Tem gente que corta os pulsos, se joga do prédio, se enforca num quarto escuro - Eu assisto filmes.
Tem gente que cheira pó até perder o nariz - Eu assisto filmes.
Tem gente que consegue superar tudo isso e é feliz na vida - E eu...enquanto tudo isso acontece...assisto filmes.


Uns diriam que é amor pela arte (até que é...mas não no começo), outros dizem que é falta do que fazer (até que é, mas não na maioria das vezes, e aquele desconhecido no ponto do ônibus, pelo jeito de olhar meio estranho acabou me dizendo telepaticamente que é porque eu quero me tornar uma pessoa culta, mas eu respondi telepaticamente que era mentira.

Eu aprendi uma coisa nesses anos de faculdade - nem toda pergunta precisa de resposta, e sinceramente...a busca pela resposta na maioria das vezes é mais gratificante que a responsta em si. Não tem isso de verdade absoluta, talvez seja por isso que eu permita que cada um pense de mim o que bem entender, e depois quando por destino ou vontade própria acabam vendo quem eu sou, acabo por desconstruir todas as impressões que eu mesma passo. Uma loucura! Um amigo meu uma vez disse que em menos de um ano ele conheceu três de mim, todas diferentes, todas complexas.

Mas existe uma pergunta que eu nunca quis responder - até agora. Porque todo mundo tem alguma coisa que não quer admitir na vida...e eu tenho várias delas guardadas em gavetas escondidas na minha memória...algumas eu até esqueço de propósito.

Porque filmes? - C O V A R D I A .

Eu lembro que quando eu era pequena um dos meus maiores sonhos era voar, e ter alguém que brincasse comigo e nunca se cansasse de mim, por mais que eu ficasse velha e sem graça...alguém que me tomasse como alguém especial pra sempre.
Eu lembro que quando eu era pequena um dos meus maiores sonhos era que existisse um "pra sempre". Eu não podia voar, eu não sabia se meus amigos e minha família ficariam comigo pra sempre, mas eu tinha uma VHS de Toy Story, as solas dos meus tênis da escola todas riscadas e um balanço onde eu podia me sentar, fechar os olhos e ir "ao infinito e além"...

Confesso que passei muito tempo sem os meus companheiros - os filmes. Foi um tempo de busca incontrolável por essa tal de felicidade, essa tal de satisfação pessoal, esse tal de sucesso nos estudos. E com o tempo eu vi que por mais que eu me matasse de estudar eu ia acabar com as mesmas pessoas no ano seguinte, inclusive as que não estudaram; e que no fim alguns deles se deram be na vida e eu não. E aquela menina que ficava se maquiando durante a aula de história acabou casando...e eu senti pena dela, mas talvez ela sinta pena de mim...talvez ela seja feliz.

Minha mãe me deu uma educação moral muito boa. Sempre fui educada e busquei fazer pelas pessoas o que eu gostaria que eleas fizessem por mim...bem...acabaram me pisando. Por ser o que alguns consideram uma "boa pessoa" eu acabei me escondendo em um dos meus mil disfarces, e pelo mesmo motivo eu não tenho coragem de causar mal algum a ninguém...nem a mim mesma.

Na esquina aqui de casa tinha uma locadora... eu sempre locava os mesmos filmes. Entenda...quando eu assistia um filme e gostava muito, eu tinha medo de ir na locadora e gastar o dinheiro das locações da semana com algum filme que não fosse bom, perdendo assim a oportunidade de rever aquele que eu tanto gostava. Me apego, julgo ser meu. Com o tempo aprendi a ver filmes novos, conhecer pessoas novas, cidades novas...saber prestar atenção na fotografia, entender certas características de alguns diretores...aceitar certos defeitos de algumas pessoas, inclusive os meus.

Um dia eu parei pra pensar em como seria a vida daqueles viciados em tudo quanto é droga que tem por aí... o que leva uma pessoa a tentar se acabar aos poucos em troca de uma felicidade de cinco minutos...o que acontece quando ela acaba.
Um dia eu parei pra pensar em como seria a vida de quem ama de verdade e teve um só amor pela vida toda...e lutou por ele, chorou, sofreu mas foi feliz no final...teve filhos, construiu uma família...plantou uma árvore.
Um dia eu parei pra pensar em como seria a vida daqueles que na verdade querem morrer, e não conseguem por covardia, ou por pressão familiar, sei lá...pensei em como seria viver querendo morrer.
Um dia eu parei pra pensar em como seria a vida daqueles que vivem pra matar alguém, e matei muita gente dentro de mim.
Um dia eu parei pra pensar em como seria a vida de alguém como eu, e nesse dia eu me vi em todos os atores, todas as trilhas sonoras, todos os cenários, todas as histórias...nesse dia eu me parti em mil pra não passar por tudo isso sozinha.

Nesse dia eu fugi pro meu quarto e me fundi com uma tela...e todo dia eu repito o mesmo ritual de covardia. Cansei de buscar compreensão porque não é pra isso que as pessoas se aproximam. Elas querem mudar o outro, e eu nunca quis mudar ninguém, porque alguém haveria de fazer o mesmo comigo?

Teve um dia que eu acho que amei. O filme do dia me lembrou que a metade de mim que vivia aquele filme morria de medo de ficar presa entre duas coisas, mas eu sou uma mutante...os outros é que não são.
Teve um dia que eu acho que amei, amei alguém que estava preso entre duas coisas, e fiquei presa entre o filme pausado e a realidade.

Entenda, a realidade é dura...ela é o "pra sempre" que arrasta suas correntes pelos dias que não temm fim. Não sei lidar com isso. Mas entendi que existem muitos amantes do cinema pelo mundo afora, mas talvez nenhum que seja um pedaço de todos eles. E por me fragmentar eu acabei absorvendo fragmentos de uma infinidade de coisas dentro de mim...tem dias que eu acho que finalmente vou explodir, mas os créditos do dia sobem e eu durmo esperando que o roteiro do dia seguinte seja um pouco melhor pra mim.

kamilatavares.

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