terça-feira, 17 de setembro de 2013

IGOR. (Fragmento aleatório)

Ele chegou exatamente um minuto antes da hora em que a consulta estava marcada; 3:14 da tarde naquele minuto que durou meia hora, porque o médico atrasou. Era sua primeira vez em um consultório psicológico...o departamento da universidade meio que obrigou ele a ir, temendo que a situação piorasse e alguma medida drástica tivesse que ser tomada.
Enquanto esperava organizou as revistas da mesa de centro e separou por cores uns legos que estavam no canto da sala de espera, provavelmente para entreter as crianças; a secretária observava curiosa enquanto atendia telefones e anotava recados, apesar de estar acostumada com certas situações, nunca vira nada tão exagerado.

- Igor Tavares?
- Sou eu!
- O senhor é o próximo, pode entrar...o doutor está lhe esperando.
- Ok.

Igor entra e observa a sala progurando algum rastro de desorganização que seja, se senta, e antes que comece o seu ritual de limpar as mãos com álcool em gel, é interrompido pela voz calma do doutor.

- Boa tarde, Igor.
- Boa tarde!
- Suponho que essa seja sua primeira vez...o que te trouxe aqui?
- O reitor!
- Hmm, posso ver o porquê - disse observando o cuidado que Igor tinha com as mãos.
- O que eu tenho que tomar?
- Agora? ... Agora a única coisa que você precisa tomar é coragem pra conversar comigo. Sem diálogo não vamos chegar a lugar algum.
- Ou a gente pode pular pra parte em que você diz logo o que eu tenho, me dá alguma coisa pra tomar e poupa o meu tempo de falar sobre problemas que você nem se importa e escuta só pra ganhar dinheiro.
- Mas não é você quem está pagando, e outra...eu não sou psiquiatra, não posso te receitar nada...minha função é ouvir você!
- E se eu não quiser falar?
- Coloco no meu relatório a conclusão das horas de silêncio.
- hmm
- E então?!
- É que eu ando meio...digamos que meio nervoso. Eu tenho TOC, acho que o senhor já percebeu isso...nunca foi novidade pra mim, sempre lidei com isso de uma forma que não prejudicasse ninguém...mas veja bem, eu sou professor e...digamos que eu ando tendo uns problemas em interagir com as pessoas.
- Desde quando esses problemas começaram?
- Na verdade eu sempre os tive, mas sabia me controlar...piorou de um ano pra cá!
- E o que aconteceu de um ano pra cá?
- Aconteceu que...que...
- Oi? Igor...Igor...acorde!!! Você tá bem? - Disse o doutor tentando reanimar Igor.
- Hã? oi...eu...eu...
- Calma, beba um pouco de água...você desmaiou do nada, o que houve?
- Eu não consigo falar...desculpe - Disse aos prantos.
- Tudo bem, a gente pode continuar depois.
- Você não entende...eles querem que eu pare de procurar por ela, eu não posso, EU NÃO POSSO! Minha vida era perfeita, meus problemas eram controláveis, eu me sentia bem...eu não consigo mais viver assim!
- Assim como? Se acalme, por favor!
- Foda-se, vou fazer tudo do meu jeito.
- Se acalme, por favor! O senhor não está em condições de se exaltar e muito menos de tomar decisões!
- Muito obrigada, doutor, mas eu não preciso mais do senhor! Coloque o que quiser no seu relatório, eu não me importo...vou embora!


                                                  ***

- Doutor, algum problema? O paciente saiu daqui correndo aos prantos, o senhor está bem?
- Estou bem sim, obrigada...vou só beber uma água pra me acalmar e pode mandar o próximo entrar.
- O que houve com ele?
- Algo que eu não sei responder...muito menos resolver.
- O que será que vão fazer com ele?
- A pergunta é: O que ELE vai fazer consigo mesmo? Esse é o medo...


                                                  ***




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