quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Weird Fishes - IGOR

Era a primeira semana de verão e os casacos deram lugar aos vestidos, saias e tardes na piscina, e ela que nunca foi muito litorânea, resolveu dar uma volta pela orla e aproveitar o fim da tarde, sua hora preferida do dia. Era dia de semana e a calçada da orla estava quase vazia, do jeito que ela gostava...porque dá pra andar rápido e ao mesmo tempo parar pra observar de uma perspectiva mais livre.
Os carros passavam na avenida cheios de pessoas voltando para casa, buzinas nos semáforos, engarrafamentos...ela odiava aquele trânsito, e por isso resolveu esperar até o anoitecer pra poder dirigir de volta pra casa; estranho ter que dirigir, não se lembrava quando tinha começado, mas sabia que não era a melhor das motoristas, só não lembrava quem havia ensinado ela a andar pela cidade...e por falar em cidade, ela começava a gostar cada vez mais dali, não sabia porque...na verdade ela não sabia de muitas coisas...era como se alguma parte da sua memória estivesse apagada, e ela fosse tentando se lembrar aos poucos enquanto andava pela orla sem rumo, procurando algo que não sabia o que era, e enquanto ocupava as duas mãos segurando o copo de suco, o seu chapéu voou.

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Era a primeira semana de verão e ele odiava a ideia de que o calor ia começar a invadir as noites e aquele último cigarro do dia não teria mais o abraço do vento frio que vinha lhe visitar todas as noites na sua varanda. Estava cansado, porém tranquilo. Depois de uns meses de adaptação ele resolveu que pacientemente esperaria por ela, mas não a procuraria mais...não iria forçar a barra e tentar adiantar o tempo e estragar tudo mais uma vez, enquanto isso buscava se reconstituir e recuperar o controle de si. A gagueira havia diminuído bastante depois que ele foi deixando o nervosismo de lado, a quantidade de cigarros fora reduzida pela metade e - acredite - as camisas no armário dele estavam todas guardadas em cores aleatórias, e os vinis estavam bagunçados e alguns até fora dos encartes.
Ele gostava de dirigir sozinho escutando aquele CD quase todos os dias no horário em que deveria buscar ela na faculdade...ele gostava de manter certos hábitos, mas naquela primeira semana de verão resolveu mudar a rota e andar pela orla, ver as pessoas passeando com seus cachorros, as crianças correndo, as bicicletas...
Desceu do carro e colocou os fones de ouvido, Gal.
Colocou os fones de ouvido e foi pra orla...andar.

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Chapéu, óculos escuros vestido solto, pés descalços, chinela e copo de suco nas mãos...andava e sorria, procurava mas não sabia o que.
Cabelo ao vento, óculos escuros, camiseta jogada no obro, bermuda xadrez, pés descalços, chinela nas mãos, fone no ouvido...andava e sorria, esperava a hora, mas não sabia quando chegaria.

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Existem momentos no universo em que alguns planetas se alinham, algumas estrelas brilham mais e algumas explosões acontecem, deixando tudo mais bonito; as luas saem pra dançar e os astrólogos sentem arrepios e escrevem coisas sobre os nossos signos. Eclipses acontecem, crianças nascem, pessoas se conhecem, o dia vira noite, e a vida dá certo e segue como um barco que foi presenteado com um sopro de sorte pra seguir viagem...e em um desses sopros o chapéu dela voou.

- Moça...moça...MOÇA!
- Oi? Desculpe eu não estava ouvindo
- O seu chapéu caiu.

Era ela...era ele. Os olhos dele saltaram de susto por não ter percebido ela passando ao seu lado...quase gaguejou, mas agora está mais controlado...os olhos dela brilharam e ela sorriu aliviada, quase perdera o seu chapéu preferido, olhou pra ele e sentiu aquela familiaridade forte feito abraço de mãe, não entendeu o porquê, mas não contestou tal felicidade tomando conta de si.

- Ai meu Deus...MUITO OBRIGADA, eu sou meio estabanada e quase perdi o meu chapéu preferido, obrigada mesmo.
- É um belo chapéu, não deixe ele voar por aí.
- Obrigada, de verdade! São os ventos novos que andam meio rebeldes
- É verdade - concordou com um sorriso - me desculpe...qual é o seu nome?
- Ah, Bianca, muito prazer! - disse estendendo a mão ao estranho - E o seu?
- Igor!






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