quinta-feira, 21 de março de 2013

Dos verões que ainda não tive.


Depois que eu aceitei o seu primeiro café tudo foi mudando aos poucos, e quando pisquei os olhos já tinha aceitado suas tardes, seus cafunés, seus dias de barba mal feita e a cópia das chaves do apartamento. Ele aceitou aquele avental que eu pintei, minha coleção de escovas de dente, minhas receitas que não deram certo, minha bagunça nos dias de jogo e os meus livros espalhados por todos os lugares.
Minha gaveta aos poucos foi virando metade do armário, e eu me dividia entre cuidar do apartamento, escrever minha monografia e deixar o café pronto pra quando ele chegasse cansado do trabalho. Ele gostava do café que eu fazia pra ele (que só ficou bom porque ele me ensinou a fazer) e eu do cafuné que ele fazia em mim quando deitava no sofá cansado depois do banho e me chamava pra ficar pertinho dele; não importava o quão cansado ele estava, sempre tinha tempo pra ser aquele cara mais fofo do mundo pra mim, com aquele sorriso de quem já está quase dormindo.
Ele estava longe de ser aquele quase loiro alto que eu sonhava em ter, mas tinha mel nos olhos, o universo no sorriso e os braços mais acolhedores do mundo. E desde o primeiro dia eu nunca me cansei daquele meio sorriso dele formando covinhas nas bochechas, nem do jeito que ele cerrava os olhos e me elogiava.
Lembro que ontem, antes de dormir ele me contou o que sentiu no dia em que me conheceu enquanto fazia voltas no meu cabelo; e falou do medo que ele teve de se aproximar, e o alívio que sentiu quando eu fui simpática com ele e sobre como ele quis me abraçar forte quando eu disse que era fã do Motorhead. Eu não pedi por nada daquilo, mas precisava tanto ouvir o que ele tinha a me dizer. Só foram surpresas boas desde que eu o conheci! E ainda dizem que sair sozinha é ruim...pois eu agradeço até hoje por ter saído sozinha aquela noite, e por ter tido tempo de arrumar o meu cabelo e passar aquele batom que fez ele chegar perto de mim. Agradeço por ter encontrado alguém que nunca teve medo de dizer as coisas que sente ou pensa - tão diferente de mim que me guardo dessas coisas - o que me passa uma confiança danada. E depois de tantas que eu passei, ter alguém pra confiar é quase como um suspiro forte depois de um quase afogamento.
Ele abriu mão de criar aqueles gatos que me davam tanto medo, e amor é o que sinto olhando o meu cachorrinho dormir enquanto espero ele chegar. Fiz aquelas panquecas que ele gosta pro jantar e pus uns cookies no forno...enquanto não ficam prontos olho o mar aqui da janela e um bocado de gente bonita andando pela orla, mas desde que eu aceitei aquele primeiro café, confesso que não tenho olhos pra mais ninguém.

Kamilatavares.


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