terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Histórias sobre o Enzo. Parte 03. O silêncio!

Uma vez o Enzo sumiu! Lembro que era o começo de tudo, e mesmo assim parece que foi ontem; nós estávamos de férias e meus olhos pesavam de sono, mas eu não queria dormir...queria ver ele chegar, saber a hora, em qual estado ele chegou, qual cheiro ele carregava da rua e o que andara fazendo. Ele estava assim há dois dias, e por não saber por onde ele andava, me lembrei de quando eu era o seu segredo e como ele mentiu bem para todas as pessoas e nenhuma delas desconfiou, e não pude deixar de pensar na possibilidade de que ele estaria mentindo para mim também, e que eu estava sendo enganada, por só ter falado com ele às duas horas da madrugada e ser obrigada a aceitar qualquer versão que ele me contasse sobre como foi o seu dia. Aquilo me aterrorizou, porque eu tinha passado um ano só, mas antes daquilo passei um ano em um relacionamento cheio de mentiras contadas nas madrugadas frias daquele inverno que foi a minha vida; e só de lembrar daquilo os meus medos largaram suas âncoras e subiram até a superfície da minha pele, que ficou fria e doente com tudo aquilo.
Por isso eu não queria deixar os meus olhos vermelhos adormecerem, e o meu pescoço dolorido de olhar para o relógio, finalmente descansar! Minha garganta estava seca e eu sabia o que fazer nem o que pensar, não me lembrava de nenhuma música feliz e não conseguia me distrair com filme algum.
Nesses dias eu me dei conta do quão insubstituível ele se tornou pra mim; quis me punir por ter deixado alguém se fazer tão importante assim nos meus dias, por admitir que - logo eu - precisava SIM de alguém pra ser feliz, e que esse alguém ele justamente ele - o Enzo. Aquilo me encheu de uma insegurança tão grande que eu tinha vergonha de admitir, porque era vergonhoso alguém da minha idade, que passou pelo que eu passei, se deixar levar por pensamentos daquele tipo; mas o drama era inevitável.
Naquele dia eu chorei sem saber o que fazer, quis bater nele, quis abraçá-lo e dizer que ele era a pessoa mais importante do mundo pra mim - mesmo sabendo que aquilo poderia o assustar e fazer ele ir embora correndo, quis ignorá-lo até o amor se acabar, quis bater no portão da casa dele de pijamas pedindo um abraço, quis dormir pra sempre...
Depois é claro que ele voltou e tivemos uma longa conversa tomando um café e fumando um cigarro...e depois daquilo todos os medos foram embora, porque todas as coisas ruins desapareciam quando ele sorria - e é assim até hoje - essa coisa meio mágica que acontece com as pessoas que se gostam. Daí eu acabei descobrindo que sofro de saudade! Quando eu era pequena e meu pai viajava eu sempre adoecia, tinha pesadelos horrorosos e tudo mais, e tudo desaparecia quando ele voltava. Talvez aqueles dias tenham sido uma versão mais crescida de quando eu ficava doente de saudade. Talvez eu tenha tido um flash back da depressão dos 21 anos, talvez alguém tenha envenenado o meu suco, ou talvez ele tenha deixado de me amar por dois dias, e eu tenha sentido isso, e depois ele mudou de ideia e tudo voltou ao normal, talvez...a única coisa que eu tive certeza naquele dia foi: NÃO DÁ SABE?! Não dá pra viver sem ele. É uma coisa tão egoísta, tão passional, tão feia e tão bonita ao mesmo tempo...eu simplesmente ouvi o Tom Jobim e concordei quando ele disse que é simplesmente "impossível ser feliz sozinho!".

No fim das contas era tudo besteira minha - por Odin, como eu sou besta - e tudo acabou bem...com ele tudo sempre acaba bem!



Kamilatavares.

"E o resto é mar, é tudo que eu não sei contar..."

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