sábado, 3 de novembro de 2012

"Um café, por favor!"



Atravessei a cidade numa tarde estranhamente fria, pensei milhões de coisas enquanto o ônibus dava voltas pela cidade barulhenta, e até tirei fotos de umas flores que vi nascer num canteiro de concreto.
Decidi fazer algo de novo, dentro das poucas possibilidades daqui, mas usualmente quando eu saio só alguma coisa de legal acontece, não sei se é porque nunca tenho expectativas, ou se é porque sair só seja algo realmente lucrativo.
Por já ter ido em quase todos os lugares daqui, decidi parar em um café naqela rua escondida do outro lado da cidade, quase nunca passo por ali, seria algo interessante.
Quem me conhece sabe que eu não bebo café. Meu pai toma tantas xícaras por dia que eu meio que abusei por osmose, e o gosto nunca me atraiu, embora seja uma bebida tão amada por todos. Então me desafiei a tomar um café...o lugar era charmoso e agradável, então peguei o cardápio e sem me preocupar muito pedi o café com o nome mais complicado possível, pra nem correr o risco de saber o que tinha ali, nada poderia ser pior que o próprio café.
Acho que é isso que as pessoas solitárias fazem...se sentam em cafés no fim da tarde com seus fones de ouvido e livros, buscando alguma paz quem sabe...então lembrei que tinha um livro na bolsa, ainda estava na metade da leitura.
Nessas horas a gente espera aquela cena de filme, onde alguém te interrompe pra comentar o quão bom aquele livro é, perguntar o que você está ouvindo, trocar comentários sobre o tempo, os filmes, as bandas...e no final ela é o grande amor da sua vida, bem ali, vestindo jeans e camiseta e te sorrindo um sorriso tímido.
O café era estranhamente cremoso, acho que tinha caramelo também...esperei uns 10 minutos pra terminar de tomar porque o primeiro gole quase queimou a minha língua. Olhei a mesa do outro lado e um grupo de 4 meninas tiravam fotos dos seus respectivos cafés. Engraçado a necessidade que a gente tem de que todos saibam até o que nós bebemos. E mais engraçado ainda o paradoxo de como essas mesmas pessoas odeam que outros se metam em suas vidas, que já são tão expostas por eles mesmos...e fiquei ali pensando antes de voltar pra minha leitura.
Pedi uma torta de limão, uma das minhas preferidas...o café nem era tão ruim assim, mas queria tirar o gosto e limão era o candidato perfeito pra isso...alguma música do Pink Floyd começou a tocar...um conhecido entrou no café, pediu alguma coisa e foi embora...não dei muito espaço pra conversa além do "boa tarde, tudo bem?"...e fora isso absolutamente nada aconteceu, exceto por um menino que não parava de olhar a capa do meu livro, mas não teve coragem de interromper a minha concentração, e eu acho que também não permiti que ele se sentisse confortavel para tal.
Talvez a vida seja uma tarde em um café, sem emoção. Ou talvez eu seja só uma observadora esperando virar um personagem com alguma visibilidade. Só sei que eu vou voltar pra experimentar os outros cafés, e só depois disso eu vou dizer se é realmente tão ruim assim...talvez eu até goste de algum café do cardápio e deixe o menino me interromper e perguntar alguma coisa sobre aquele livro. E eu conte pra ele o meu estranho habito de sentar cafés só pela torta de limão.

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