sábado, 1 de dezembro de 2012

O pássaro vermelho.


Cansado de bater as asas sem rumo...aquele pássaro vermelho tão pequeno viu que a liberdade era muito grande pra ele. Lutou pra aprender a voar como os grandes, sentir os ventos e o calor do Sol em suas penas tão vermelhas de vida, e agora estava ali...cansado de tanto ser livre...procurando um lugar perto de um lago onde as árvores derramem suas folhas na água...onde tudo seja um eterno fim de tarde.
Quando finalmente encontrou o lago tão procurado para o seu descanso, se deparou com uma gaiola dourada...pendurada na maior de todas as árvores ao redor. Meu Deus...só podia ser um presente para as suas asas tão sofridas...aquela gaiola dourada, imponente e solitária esperando ser habitada por ele.
E se sentiu tão feliz...o pássaro e sua gaiola. Nela o pássaro vermelho tinha tudo o que precisava...e embora sofrida e amassada...cheia de marcas, a gaiola ainda refletia um dourado de beleza inigualável. Não era impecável...era defeituosa, como o pássaro queria depois de tanto procurar pela perfeição da liberdade sem conseguir encontrar.
Mas uma gaiola, por mais bonita que seja, não completa a vida de um pássaro! Ele precisava de outros pássaros pra ser completo. Mas era tão feliz em sua gaiola que o conforto o impediu de voar...e lá ele se trancou, olhando os outros pássaros rumarem para o sul enquanto ele se consolava por ter a sua gaiola, e não precisar de mais nada.
Então a comida acabou...e o pássaro chorou por ter que sair da gaiola pra ir procurar mais. Quase desistiu...tinha medo de voltar e ela não estar lá! Ele era o único que sabia que a gaiola precisava tanto dele, quanto ele da gaiola. Pois sem o pássaro ela era apenas um belo espaço vazio, e com tal justificativa interna o pássaro vermelho se consolava dos discursos de que ele era o único que precisava da gaiola...e saiu para buscar comida...pensou em não voltar...lembrava da gaiola vazia...e voltava.
Cuidava da gaiola como se fosse o lugar mais precioso do mundo...e sempre que saia tomava o cuidado de não voar muito longe...mas um dia o pássaro se sentiu sozinho...se olhou através do espelho d'água do lago...suas penas nem eram mais tão vermelhas assim...estava enfraquecido por não voar mais...precisava tomar uma decisão!
Cantou com tristeza naquela tarde...a gaiola se contorcia em reprovação...mas o pássaro precisava voar. E todo dia ele sai da gaiola e voa um pouquinho mais longe...mesmo com aperto no coração...e quando não aguenta mais ele volta. O beija-flor disse que ele não aguentaria viver fora da gaiola...um verdadeiro acomodado; a águia o aconselhou a ir embora e não voltar nunca mais...que ele conseguiria; e um pássaro azul desconhecido, estranhamente parecido com ele, disse que o pássaro vermelho podia ir...que voasse atrás da liberdade que ele esqueceu, porque a gaiola sempre esteve ali pra ele...e sempre vai estar.


Kamilatavares

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